Como está a sua relação com a comida?

Quem nunca encheu a boca de saliva só de ver a comida saindo do forno, toda douradinha e suculenta, de sentir o cheiro do churrasco do vizinho. Os nossos sentidos despertam um desejo pela comida que não vem da necessidade fisiológica do alimento. A comida está presente nas festividades, nos encontros com amigos, na maneira como dizemos que gostamos de alguém, na forma de cuidar do outro. Muitos dos nossos vínculos mais significativos são criados em volta de uma mesa. Junto com a carne suculenta, engolimos também a satisfação e alegria de um momento ou o medo e a raiva pela falta, pela frustração e tantas outras coisas que sentimos ao longo da vida.

Li recentemente o livro A vegetariana (contém spoiler!), da ganhadora do Nobel de Literatura Han Kang, que gerou muitas inquietações ao pensar como o ato de comer pode refletir muitos dos nossos conflitos internos. Nas primeiras páginas do livro a personagem principal apresenta uma enorme angústia e terror em relação a carne como uma reação aos traumas e violências sofridas. Aos poucos a personagem vai se retirando da vida, deixando de se alimentar por completo como uma maneira de se proteger das violências do mundo.

Sempre que uma situação gera uma carga afetiva para além das condições do sujeito de simbolizar a experiência, o trauma deixará marcas emocionais bastante sensíveis e o corpo vai buscando meios de lidar com a dor e o sofrimento.

É muito importante perceber a relação que mantemos com a comida e como nos sentimos quando comemos. No momento em que a pessoa se dá conta de que come muito quando está triste, por exemplo, ela pode olhar para si e refletir sobre o motivo da tristeza ou buscar ajuda profissional para criar recursos e uma nova maneira de se relacionar consigo mesma e com as outras pessoas.