Há muitas pessoas hostis e desagradáveis que precisam esforçar-se para ter uma aparência afável. Todavia, muitos indivíduos percebem esse esforço e sabem que não são apreciados e que podem reagir até com raiva reprimida.
Sabemos de muitos casos em que pacientes e médicos se detestam. Acontece que o paciente se queixa demais ou sem justificação e o médico, percebendo isso, faz uma pergunta em tom irônico ou acusador, revelando seu desdém ou falta de simpatia. É natural que o paciente ficasse ressentido.
É tão agradável conviver com pessoas alegres, com sentido de humor, que sabe ver o lado engraçado e interessante das coisas! Melhor ainda se puder rir ante seu comportamento curioso. Na maioria das vezes sorrirá ao aborrecerem-no em vez de ficar furioso. Pessoas dotadas de bom senso não estão sujeitas a melindres, a mágoas, a orgulho ferido. Já ouvimos certas pessoas dizer que dezenas de vezes foram obrigadas a assobiar a fim de não chorar.
Não é possível que se possa sentir muito feliz quem detesta alguém ou está sempre disposto a tomar vingança contra outra pessoa. São pessoas que estão sempre maquinando um plano para desforrar-se de alguém. Muitos homens prudentes já chegaram à conclusão de que odiar prejudica mais a quem odeia do que a quem é odiado. Detestar ou ter horror a alguém é perder tempo e energia, é um mau hábito que pode fazer muito mal a quem se dedique a ele. Muitos neste mundo não são apreciados por terem pose demasiadamente arredia.
Essas atitudes de ódio são bastante comuns e revelam-se principalmente na política e nos momentos de eleição. E não são apenas os eleitores entre si que odeiam o candidato opositor. É mais frequente do que se pensa, os políticos entre eles odiarem-se de forma tão violenta a ponto de provocarem emboscadas, agressões físicas e até mortes. Nós brasileiros conhecemos muito bem o que é isso. Todos sabem do que estamos falando e temos certeza de que conseguirão identificar, dando nome e sobrenome aos envolvidos em emboscadas, agressões físicas e até mortes. O pior é que não se trata de um ou outro caso. A política brasileira está tão vil, tão achincalhada, que nem deveria mais ter a permissão de chamar-se política. Pobre Aristóteles que perdeu seu tempo, tentando mostrar, pelo menos aos mais inteligentes, em que consiste a Política com pê maiúsculo!
E vem-nos à mente a figura daqueles ícones gregos, como Demóstenes e outros tantos, que tentaram viver politicamente dentro de padrões racionais. Infelizmente, para nós brasileiros esse modus operandi foi em vão. Semente não germina em terra seca, pedregosa, árida.
Muita gente que não gosta de ninguém também não é capaz de amar a ninguém. O homem assim talvez admita que nunca amou muito a sua mãe, sua esposa, seus filhos. Certas pessoas desse perfil são irritadiças demais para viver com quem quer que seja na mesma casa — homem ou mulher. Não suportam alguém que funga o nariz, tosse, pigarreia ou tem qualquer maneirismo próprio.
Parafraseando Jurgens, diríamos: "Compadeço-me de ti pois percebo que és um sujeito monstruosamente vil; assim a vida sairá vitoriosa de ti". Não há melhor maneira de ganhar a estima de alguém, demonstrando-lhe seu apreço. Eis uma frase que deveria ser o lema de cada um: "Gentileza gera gentileza".
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP