O mundo sempre foi uma incógnita. Difícil interpretar nossa existência, prever, antecipar, colocar ordem, evitar catástrofes etc. Recentemente li em Jordan B. Peterson que o caos e a ordem são dois elementos da experiência vivida. Não são coisas nem objetos. A ordem, o conhecido, resumindo, é a cultura política, o ambiente corporativo, o sistema. São os cartões de crédito, as salas de aula, as filas do caixa no supermercado, os semáforos etc. etc. Quando a ordem está desequilibrada pode operar de modo destrutivo. Já o caos, o desconhecido, é a origem, em sua aparência positiva é o domínio misterioso da gestação do nascimento. Como fonte negativa é a escuridão de uma caverna, é a mãe ursa, toda compaixão com a prole, mas que considera você um predador e não hesita em matá-lo.
O caos e a ordem compõem o ambiente transcendental de nossa vida. Habitamos a ordem eternamente, rodeados pelo caos. A vida inteira ocupamos território conhecido, cercado pelo desconhecido. Cada situação vivida é formada por ambos. A ordem não é suficiente porque ainda há coisas novas e vitais a serem aprendidas. Todavia, o caos pode ser insuportável. Você não consegue viver o tempo todo sobrecarregado tentando aprender coisas e aí terá que colocar um pé naquilo que aprendeu e outro naquilo que está explorando. Você está na ordem quando tem um amigo legal. Quando a mesma pessoa o trai você entra no submundo escuro do caos, confusão e desespero. É a mesma mudança que enfrenta quando a empresa em que trabalha começa a falir e seu emprego entra em risco. Quando o gelo no qual você patina é sólido, isso é a ordem. Quando o chão se rompe, as coisas desmoronam e você mergulha no gelo, é o caos.
Muitas coisas começam a fazer sentido quando entendemos o mundo dessa maneira. Dominar essa dualidade é fundamental: ter um pé plantado na ordem e outro no caos. Mas, ordem e caos, vida e morte: isso não é suficiente para a própria humanidade. A história continua com toda sua tragédia e catástrofe e nós devemos lutar com mais um despertar doloroso. Nem sempre temos a capacidade de afagar a ordem e fugir do caos. Mas, sabemos o que nos faz sofrer e sabemos como infligir o sofrimento aos outros. Apenas o homem poderia ter concebido o banco da tortura e outros instrumentos de maldade. Ninguém sabe mais do que você como sua mente e seu corpo são falhos. Em vez de colaborar, no que for possível, com a ordem e evitar o caos os seres humanos têm uma grande capacidade para fazer o mal. Enquanto escrevo estas coisas, vem-me á mente dois fatos recentes. O daquela moça que, com esforço, conseguiu passar no vestibular para cursar medicina. Felicidade? Não, humilhação, constrangimento, porque três patricinhas se puseram a zoar porque ela tinha 40 anos. "Com essa idade deveria estar aposentada", disse uma delas. Maldade, perversidade. Paralelamente, acontece a invasão brutal de uma escola por um garoto de má índole, que acaba matando e ferindo pessoas aleatoriamente. Os seres humanos têm uma grande capacidade para fazer o mal. Podemos e deixamos as coisas piores com total conhecimento daquilo que estamos fazendo. Considerando essa terrível capacidade não é duvidoso achar que teríamos grande dificuldade para tratar dos outros ou mesmo duvidarmos do projeto humano como um todo?
Palavras de Jordan B. Paterson: "talvez o mundo devesse ser limpo de toda presença humana para que o Ser e a consciência pudessem retornar á brutalidade inocente do animal."
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP