"ATO SOBERANO"

Por Jornal Cidade de Agudos em 13/05/2022 às 05:43:27

Num livro de Demétrio Magnoli há um texto muito interessante a que dá o nome de o "ATO SOBERANO DE RAUL RIVERO". Gostaria que meu leitor ficasse a par dele, porque é nele que me basearei para explicar o que é querer pensar e as autoridades impedirem.

Em 2003, Raul Rivero foi submetido a uma farsa judicial e condenado a 20 anos de prisão por um tribunal cubano junto a mais 80 dissidentes a penas variáveis. Num artigo publicado no exterior "Monólogo de um culpado", Rivero começava assim: "As palavras de lei sobre a proteção da independência nacional e da economia de Cuba permitem às autoridades de meu país, condenar-me por um único ato soberano que realizei desde que tenho uso da razão: escrever sem receber ordens." As condenações sumárias e os fuzilamentos dos dissidentes cubanos chocaram até mesmo alguns entusiasmados do regime de Fidel Castro. O mais célebre entre eles, José Saramago, publicou um manifesto de ruptura com Cuba, dando mais significação ainda ao fato. Ele escreveu que com aquele ato Cuba perdera a confiança dele e arrasara suas esperanças e frustrara suas ilusões. No Brasil, porém, as correntes de esquerda política optaram por cumplicidade.

Naquele momento, quando o governo de Lula desfrutava de seus momentos inaugurais, o Brasil gozava de grande influência política no exterior, justamente por ter eleito um presidente de esquerda, mas o governo de Lula também optou por cumplicidade vergonhosa. Sua abstenção na votação que condenara Cuba na ONU foi a leveza da declaração no voto da ONU que manifestou apenas "preocupação" com os fuzilamentos e condenações sumárias. Em vez de condenar um Estado que fuzila e prende com base em farsas judiciais, Lula preferiu o silêncio oficial com seus comentários que preferiam condenar uma suposta "manipulação de informações" contra Cuba.

Nesse mesmo texto de Magnoli, ele atesta que algumas figuras carimbadas de esquerda brasileira haviam se regozijado com os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque e Washington. Essas figuras bateram continência para os fuziladores cubanos. Politicamente primitivos eles raciocinaram a partir de um silogismo infantil: o apoio aos inimigos do meu inimigo. O primitivismo político é apenas a superfície. O novo fascínio pelo terror e o velho fascínio pelo totalitarismo tem raízes profundas na ruptura da esquerda marxista com a democracia. O divórcio consumou-se pouco depois da tomada do poder pelos bolcheviques da Rússia e foi denunciado por uma revolucionária marxista Rosa Luxemburgo. Veja o que ela escreve no seu ensaio sobre a Revolução Russa: "Liberdade somente para os partidários do governo, para os membros de um partido, por numerosos que sejam não é liberdade. Liberdade é sempre liberdade daquele que pensa de modo diferente. Não por fanatismo da justiça mas porque tudo quanto há de instrutivo, de salutar e purificador na liberdade política se prende a isto e perde sua eficácia quando a liberdade se torna um privilégio".

Em outro trecho do livro de Magnoli, ele mostra bem o perigo que estamos para viver mais uma vez nas mãos de Lula que encarna a tradição do patronato político brasileiro. Muitas vezes, Lula definiu a nação com a metáfora da família, na qual ele desempenha o papel de pai provedor, governando com o coração e zelando pelos seus filhos, sobretudo os mais fracos. Eis o conceito arcaico que sempre emanou o pensamento do Lula-presidentes: governar é distribuir privilégios seletivamente. Na oposição de 1999, Lula denunciou o Bolsa - Escola de FHC, precursor do seu Bolsa-Família sob o argumento de que o povo não quer migalhas, nem cesta básica nem esmola. Mas, o traço característico de seu governo nunca foi universal. Foram sempre iniciativas preferenciais — mensalinhos dos pobres que tiveram como contra partida o mensalão destinado a comprar consciências. Quem se interessar pelo livro de Demétrio Magnoli é procurar O GRANDE JOGO, SP, Ediouro, 2006, 271 p.

Como as eleições estão aí, e Lula está na boca do povo, procure analisar algumas características do candidato. Ele apoia ou apoiou tendências totalitárias, defendendo posições ditatoriais, que matam, esfolam, prendem e se fazem de bonzinhos? Defendeu bandidos, assassinos, fez alianças esquerdistas mandando dinheiro do Tesouro Nacional para alguns desses países em desfavor da nação que o elegeu? Fez alianças espúrias com movimentos que espoliam nossos bens, nossas terras como MST, por exemplo, e outros que estão sempre dispostos a explorar a máxima do "o que é teu é meu"? Será que um dia poderemos dizer que a nossa bandeira será a da Constituição: os direitos do cidadão e que o Estado chegou para ficar? É sonhar demais? Ou isso é coisa para estadistas, não para políticos liliputianos. Será que vamos comer de novo o pão que a mão corrupta amargou?

Dra. Maria da Glória De Rosa

Pedagoga, Jornalista, Advogada

Profª. assistente doutora aposentada da UNESP

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