Talvez não fosse exagero afirmar que o livro Ravensbrück, de Sarah Helm, é uma enciclopédia das ocorrências nesse campo de concentração, com seus horrores e monstruosidades. Para lá eram enviadas levas de prisioneiras, que habitualmente eram remanejadas. Essa expressão "Mulheres de Palha" foi extraída do livro. É o seguinte: provavelmente em final de 1944, quando fazia muito frio, e começou a nevar, chegou em Ravensbrück um grupo de mulheres vestidas de palha. As prisioneiras as viram e mantiveram distância. As condições das 1,3 mil recém-chegadas eram as piores possíveis. Eram sobretudo judias húngaras que estavam em Auschwitz e foram mandadas para um subcampo ao oeste da
Alemanha onde trabalhavam na construção de um aeroporto. Quando as forças americanas se aproximaram, o campo foi fechado e as mulheres exauridas foram transferidas para Ravensbrück.
Uma prisioneira transformada em policial foi uma das que viram de perto as mulheres de palha e ela as descreveu ao depor no tribunal de crimes de guerra de Hamburgo. Fazia a patrulha perto do portão quando as viu pela primeira vez. As mulheres chegaram vestidas só com palhas amarradas em volta do corpo. A policial as viu várias vezes. Elas morriam pelos campos a toda hora. Caiam e morriam. Elas eram regularmente espancadas por duas prisioneiras alemãs — que não eram guardas — e uma delas, uma polonesa alta, lésbica, vestia-se de homem e tinha cabelo curto. A outra era gorda e tinha aparência comum. Ambas foram selvagemente brutais com as judias recém-chegadas e as espancaram várias vezes sem misericórdia com varas ou o que encontrassem.
Diferentemente de outras prisioneiras, a prisioneira que fazia as vezes de guarda — ela própria era húngara — aproximou-se das recém chegadas, em vez de temê-las. Foi aí que ela conheceu uma senhora húngara. Quando esta chegou tinha as pernas em péssimas condições devido ao que passara no inverno ao deixar a Hungria. A senhora foi indicada para trabalhar fora do campo e protestou porque não conseguiria fazê-lo. Mas foi obrigada a ir, depois perdeu os pés e morreu no hospital.
O depoimento dessa prisioneira foi detalhado e franco, em parte porque, como policial, ela pôde ver muita coisa que ocorria, e também porque, ao contrário de outras policiais do campo, queria contar o que vira e constatado que, nos últimos meses de 1944, foram só mortes. A policial também asseverou que os acontecimentos que testemunhou foram certamente planejados para provocar morte. Por exemplo, nos blocos do hospital os médicos da SS colocavam no mesmo leito paciente com ferimento no pé e outra com tuberculose, tifo ou qualquer outra doença contagiosa — o resultado inevitável eram duas mortes por contágio.
Ela viu corpos por toda parte. No celeiro da morte encontrou corpos que iriam ser levados para a fornalha. Perto do crematório testemunhou a extração do ouro dos dentes das mortas. Pouco depois verificou que a tia de seu marido estava entre as que tinham chegado da Hungria. Ao saber que fora levado para um dos blocos da morte, onde as prisioneiras com disenteria ficavam abandonadas, sem comer, até morrerem, ela foi investigar. Tentou vê-la, mas não a deixaram entrar. Nunca mais ela viu a tia de seu marido.
A prisioneira contou ao tribunal tudo o que ouvira. Contou que uma mulher lhe disse que seu bebê recém-nascido estava morto pois fora comido por ratos. Em outra ocasião ela fazia patrulha perto do crematório e ouviu um oficial sênior da SS dizer que era desperdício de carvão queimar os corpos das mortas.
Muitos brasileiros, que viveram na década de 40, mal sabiam o que se passava nos campos de concentração alemães. As mortes e os espancamentos pipocavam e ingenuamente não se tinha muitos testemunhos do que nazistas e comunistas tramavam por aquelas bandas. Ao descrever esse período, as sobreviventes narram que viam grupos de recém-chegadas, em geral judias, vagando perdidas pelos campos, talvez separadas de seu transporte. Certo dia, quando uma prisioneira voltava da cozinha onde fora buscar água para as mulheres das oficinas de tecidos, ela viu um desses grupos. Estavam em estado lamentável: obviamente acabam de chegar e deviam ter passado vários dias sem comer nem beber. Quando viram a jarra de água correram em direção à prisioneira, a água quase toda caiu e elas se atiraram ao solo para tocá-lo com os lábios. A prisioneira que segurava a jarra com água viu uma mulher estirada no piso. Estava dando a luz bem ali. Ela deu a luz em plena imundície da rua do campo. A prisioneira com a jarra na mão, que presenciou tudo isso, tinha apenas 20 anos e nunca tinha visto alguém ter um filho! Que experiência mais dolorosa!
Chega de tanto sofrimento, desamor pela vida alheia, selvageria, embrutecimento de atitudes. Isso tudo é uma amostra do que comunismo e nazismo já fizeram em nome de suas ideologias macabras. Só nos resta pedir a Jesus que tenha piedade do "homo sapiens", ele não sabe o que faz!