UM PROMETEU PARA NOSSAS ESPERANÇAS

Por Jornal Cidade de Agudos em 12/10/2023 às 08:54:58

Prometeu era um dos titãs da mitologia grega, e roubou o fogo dos deuses do Olimpo para entregá-lo aos homens. Como castigo, Zeus, o deus superior dos gregos, ordenou que o acorrentassem a uma rocha e que uma águia lhe bicasse o fígado, que não pararia de crescer, num suplício eterno. O ser humano sempre suspirou pela ajuda de um Prometeu que lhe trouxesse uma benesse, a fim de melhorar sua vida na Terra e lhe desse esperanças de um mundo melhor. Na verdade, nossa cultura é o resultado de processos libertários de homens que tentaram produzir sementes de libertação. Eles foram os Prometeus de nossa libertação.

A liberdade, como processo, não é um mito. Sempre se sonhou com a liberdade individual e coletiva, como algo possível, realizável e concreto. A partir desses sonhos começamos a ser livres. Sem a esperança de poder ser livre, e de já ter sentido o gosto pela liberdade, nenhum outro bem, como o amor, a beleza, a justiça, a paz, nos parece possível.

A única liberdade que nos serve é a que conquistamos, não a que nos doam, emprestam ou vendem. Só podemos ser livres às nossas custas. A busca pela liberdade terá de ser um trabalho incessante, sem descanso, vigilante, permanente. Quem pode garantir que ser livre hoje será também livre amanhã? Nós, brasileiros, temos experiência dessas oscilações do grau de liberdade entre nós. Ninguém pode duvidar que ontem fomos mais livres do que hoje. Não me lembro de ter ocorrido tantas prisões por coisas menores, como criticar um togado, abordar um político cobrando-lhe promessas não cumpridas, prender um cidadão por meras suposições de que é golpista. Falar negativamente do governo, de maneira geral, já foi motivo da demissão de muitos cujo trabalho, como jornalismo por exemplo, não é outro senão fazer análises sociais. Canais de televisão já foram ameaçados de serem silenciados, caso não mudassem sua linha editorial.

Embora a liberdade pareça com o respirar para sobreviver, ela se assemelha mais com o amor, que é preciso cuidar, desenvolver, defender. Pode-se até pensar que a liberdade é secundária como mecanismo de sobrevivência, mas, a história mostra que ser livre acabou por valer tanto quanto viver. Comunismo, nazismo e outras ideologias autoritárias provam e comprovam essa tese com fatos, números e estatísticas. A busca de um novo modo de viver, fundado na liberdade, tem de admitir a busca incessante, ininterrupta da nossa própria liberdade como igualmente a liberdade do outro. Queremos dizer, a busca da liberdade coletiva e a busca da liberdade individual são dois processos que só fazem sentido se unificarem-se.

Aqui não cabe desequilíbrio, não podemos tergiversar. Se, egoisticamente, buscarmos a liberdade sem compreender sua inserção na busca pela liberdade coletiva, acabamos por nos dobrar diante das fortes relações do poder autoritário e antidemocrático. Durkheim já dizia que a sociedade é mais do que a simples soma de indivíduos. A liberdade de cada indivíduo somada à dos outros resulta em possibilidades muito maiores de realização criativa do que a liberdade de cada um, isoladamente, permite. O trabalho coletivo tem muito mais força do que a somatória de dos trabalhos de um indivíduo embora o número de horas-homem de trabalho seja o mesmo.

Criar formas alternativas de convivência é exercício necessário, fundamental à nossa liberdade. É do novo que se faz o presente, não há porque esperar a vinda de um Prometeu. Nossos sonhos precisam vividos agora. Amanhã serão outros. Queremos viver agora a nossa utopia: liberdade já!

Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP
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