RACISMO NO BRASIL

Por Jornal Cidade de Agudos em 03/11/2023 às 09:22:55

Antes de iniciarmos este texto, uma explicação: o título acima não significa, nem poderia, que tentaremos esgotar o assunto. As anotações que inserirmos serão, como sempre, rabiscos, ideias genéricas, limitadas a respeito do assunto. Na nossa biblioteca, temos um livrinho, de autoria de Leonardo Trevisan, sobre a Abolição, SP, Ed. Moderna, 1988. É nele que nos basearemos para o desenvolvimento do tema, inserindo também algumas ideias pessoais.

Todos nós detestamos atitudes racistas. Falamos insistentemente que todos são iguais, independente de qualquer diferença. Queremos dar a impressão de que pouco importa a diferença da cor do indivíduo, seja ela branca, preta ou amarela. A cor só é um disfarce que ajuda a mascarar a questão maior: "Quem manda aqui?" A forma como a sociedade organiza o poder é determinante para manter atitudes racistas ou acabar com elas. As sociedades que têm uma organização democrática estão mais aparelhadas para manter sob seu controle atitudes racistas — porque, na maioria das vezes, elas aparecem sob forma mascarada. É uma exigência da democracia que o poder seja a vontade de todos.

E a empregada lá de casa? Parece pouco importante que a cor dela seja branca, amarela ou negra (embora reconheçamos que a cor negra "piora as coisas")? O problema, porém, não é bem esse. Já notaram que para nós parece confortável que existam à nossa disposição seres humanos capazes de realizar o "serviço menor"? São serviços que poucos gostam de fazer como, varrer o chão, arrumar a cama, tirar a mesa, limpar o banheiro, lavar e passar a roupa, lavar os vidros etc. Isso de não gostar de fazer tais obrigações parece natural porque temos uma herança colonial, com um passado não muito remoto, com escravos e dissimulamos muito bem dizendo tratar-se de um trabalho assalariado como outro qualquer. Sabemos, no entanto, que não é um trabalho como qualquer outro, como possa parecer. Acham os leitores que a sociedade valoriza do mesmo jeito quem executa trabalhos como os da empregada doméstica, faxineiro, jardineiro, lixeiro e tantos outros? Essas pessoas valem tanto para a sociedade como outras para um povo que tem a memória coletiva presa à escravidão? O problema não é só o salário, pois muitos têm até uma remuneração melhor que a de um professor. O problema é a maneira como a sociedade costuma enxergar quem desempenha essas tarefas. Será que nenhum leitor jamais tomou nenhuma atitude racista com alguém que estivesse exercendo uma dessas funções? Vocês sabiam que em países mais desenvolvidos — não importa o regime político — não existem quase executores para aquelas tarefas? Cada um trata de manter limpo o espaço em que vive. Para essas pessoas não vigora a "memória" da escravidão, entre outras coisas.

Essa deve ser a tarefa básica de uma sociedade com veleidades democráticas: acabar com a memória da escravidão. Tal memória, às vezes camuflada, outras vezes escancarada, não é tarefa simples. Supõe dividir com todos o direito de "ter vontade própria", porque esbarra naquela parte do ser humano que não é nem boa nem má, é simplesmente egoísta, individualista. Lembram-se do jornalista José Nêumane Pinto? Ele se expressou com felicidade, quando afirmou: "Concordar é um direito do escravo. Divergir, um privilégio dos homens livres." Será que os homens que exercem o poder — e aí incluímos presidente, senadores, deputados, prefeitos, os "togados" blindados dos tribunais e até os diretores de empresas, chefes de sessão etc. — sabem conjugar o verbo divergir?

Atenção! Homens livres só chegam a ser realmente livres se caminharem com seus próprios pés. Sem "donos" de qualquer espécie. Muitos ainda se impõem manipulando a manopla — que pode ser o mando, a mão grande, o cargo, a soberba. Quem se serve de qualquer estratagema para exercer o poder tem sempre um caráter duvidoso e vingativo. O importante é acabar com eles.

Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP
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