Esclareçamos que este texto irá prender-se aos problemas do cotidiano. A tentativa será de buscar soluções para algumas questões que nos afligem, sem ter nenhuma certeza de alcançar nosso objetivo.
A racionalidade conferida ao Homem inclina-se ao orgulho. Certas pessoas trabalham para tornar suas utopias realidade e acabam transformando suas vidas em um lamaçal de problemas. Um estudante de esquerda adota uma postura a favor de seus ideais e passa a vida inteira tentando derrubar moinhos de vento de sua imaginação. Uma jovem de 18 anos arbitrariamente decide querer se aposentar aos 52. O que ela sabia de seu eu de 52 anos quando era uma adolescente? Qual foi o significado de sua vida se aquele objetivo inicial estava errado? Todos nós, ao tentar realizar uma utopia, trabalhamos durante décadas para tornar realidade um sonho impossível e tememos abrir a caixa de Pandora onde vivem todos os problemas do mundo, mas a esperança também está ali. Distorcemos nossas vidas para que se encaixe em nossas fantasias.
Esse tipo de deturpação é típico dos ideólogos. Eles adotam um único axioma: o governo é ruim, o capitalismo é ruim, o patriarcado é ruim, a imigração é ruim. De forma incrível, não percebem que, sob a tutela de toda essa teoria ruim, o mundo poderia ser arrumado, bastaria que eles assumissem o controle. Essas são as chamadas mentiras da vida.
Consideremos agora aquela pessoa que insiste em que tudo está certo em sua vida. Evita o conflito, faz tudo que lhe pedem. Ela se empenha pela invisibilidade como o peixe no cardume. Não questiona a autoridade nem apresenta queixa quando é maltratada. Mas, uma inquietação corrói seu coração. Está sofrendo porque a vida é sofrimento. Está isolada, solitária, frustrada. Contudo, sua obstinação, sua subserviência eliminam todo o significado de sua vida. Tornou-se uma escrava, um objeto a ser explorado. Não consegue o que quer ou o que pensa porque isso significaria falar o que pensa. E isso a deixaria doente.
Se você não se revela para os outros, passará a vida invisível e jamais conseguirá revelar-se para si mesmo. Isso significa que você suprime quem é. Se explorar corajosamente o desconhecido, você reúne informações e pode com isso construir um eu renovado. Pesquisadores descobriram que os novos genes do sistema nervoso central começam a funcionar quando um organismo é exposto a uma nova situação. Esses genes codificam novas proteínas que são os tijolos para novas estruturas do cérebro. Isso quer dizer que muito de você ainda é nascente e não será colocado em prática pela inércia. Você precisa ir a algum lugar, dizer alguma coisa precisa apertar seu botão de ligar. Se não fizer isso, permanecerá incompleto... e a vida é difícil para quem não é completo.
Se você disser sim quando é necessário dizer não, você se transforma em alguém que só consegue dizer sim mesmo quando o momento é oportuno para dizer não. Se trair a si mesmo, se disser coisas falsas, você enfraquece seu caráter. Se tiver um caráter fraco, a adversidade o derrubará quando surgir, e ela surgirá inevitavelmente.
Vamos ficando por aqui, porque quem escreve para jornal tem que pensar somente 10 ou 20 centímetros, conforme o espaço que lhe é concedido. Assim sendo, espero que o leitor tenha entendido o recado e não se escravize a nenhuma utopia, não se transforme num ser invisível, não exclua a palavra não de seu vocabulário, quando tiver de agir, aja e não deixe para amanhã o que deve ser feito agora. Até a próxima!
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP