Quando tenho uma ideia quero pô-la logo no papel porque minha cabeça não descansa. Pelo contrário, cansa. Penso, penso, logo existo, como dizia o filósofo Descartes. Hoje pensei em nossas percepções. Como outros órgão dos sentidos, a percepção é sensacional. Presumimos que vemos objetos ou coisas, mas na verdade não são assim. O mundo não é tão simples como pensa o cidadão de média cultura.
Deitada de costas no meu sofá vejo diante de mim um quadro lindo de flores, flores pequenas aos montões. Mas, se lhe disser que, por entre as flores, já divisei dezenas e dezenas de seres? Já "encontrei" Jesus, Virgem Maria, São José... Não sabia que o quadro continha entre flores, a Sagrada Família. Há muito mais coisas e pessoas. Posso divisar, por exemplo, objetos, soldados, cajados etc. etc. O que eu quiser estará naquele quadro. Ele contém um exército, uma coleção de coisas e mais coisas. Está "povoado" de gente. Todo um bairro. Espero encontrar mais coisas amigas e não temíveis. Creio que vai depender de mim, ou não?
Estou velha, mas não senil, graças a Deus! Juro que vejo o que, com certeza, você não verá. Há uma corrente psicológica chamada Gestaltismo, que tem estudos interessantíssimos sofre "figura e fundo". Mas, vou deixar esse assunto para uma outra ocasião. O que quero lhe passar hoje: nossos sistemas perceptivos transformam o mundo, multinível, complexo, interconectado em não apenas coisas "per se", mas como também em coisas de utilidade ou suas nêmeses: as coisas que atrapalham nossos caminhos. Transformamos a complexidade das coisas através da nossa percepção específica. É uma redução necessária deste mundo complexo. Vemos, de acordo com nossas necessidades, ferramentas, dadas à nossa capacidades e limitações, e outros objetos também práticos.
O problema da percepção é muito mais complexo que nossa compreensão imediata, diz Peterson. A questão é tão intrincada que paralisou o progresso imediato da Inteligência Artificial quando descobriram que um raciocínio abstrato e sem corpo não poderia sequer resolver um problema simples do mundo real. Ignorava isto. (V. Peterson, 12 REGRAS PARA A VIDA, p.272) Passo a informação ao leitor. "Pioneiros como Rodney Brooks propuseram, no final da década de 1980 e início da de 1990, que corpos em ação eram precondição essenciais para analisar o mundo em coisas manejáveis, e a revolução da IA recuperou sua condição e impulso."