COMEÇAR DE NOVO

Por Jornal Cidade de Agudos em 04/01/2024 às 14:40:33

Comecemos 2024 com promessas que possamos cumprir. De nada adianta subir nos saltos, colocar prioridades impossíveis no topo e depois descer humildemente calçando as sandálias das possibilidades. Melhor usar rasteirinhas de prata que coturnos engalanados de ouro que ferem os pés e impedem a caminhada. Quantas foram as intenções desses anos pretéritos que ficaram no imaginário e nos frustraram mais uma vez? Melhor é fazer como o autor da canção e começar de novo; melhor mesmo é contar com você, vai valer a pena ter amanhecido, ter-se rebelado, ter sobrevivido. Ah! Como são belas as letras dos cancioneiros populares.

Prometa-se, neste início de novo ano, o que possa cumprir. Não faça juras loucas, não se machuque, não coloque como favas contadas o prêmio que tremula no alto do mastro. Vai frustrar-se amigo, porque lhe faltará a respiração para a caminhada e só então, ainda no início da escalada, ou quando muito na metade do caminho, vai perceber o fôlego lhe faltando e os pomos de ouro ainda longe, na linha do horizonte, inalcançáveis, difíceis de serem tocados.

Longe de nossas intenções uma posição negativista, desanimadora, derrotista. Apenas, se quem me lê fizer questão de um rótulo, que seja o de uma postura realista, sensata, nem excessivamente pessimista nem tampouco exageradamente otimista. Os grandes filósofos tinham como régua a expressão do in medio virtus, a virtude está no meio. Válida é a expressão popular do nem tanto ao mar nem tanto à terra. A sabedoria sedimentada pelos séculos deve ser chamada à baila, de quando em quando, para descermos às miudezas da vida e tomarmos aquele choque de realidade que levanta o véu filigranado de todas as coisas e aponta para a verdade desnuda, sem paramentos de luxo e sem invólucros ofuscantes.

Quantas vezes a verdade espartana não pregou lições majestáticas aos rebucos, às dissimulações que escondem a essência e ficam apenas na aparência das coisas. Troquemos o rebuscado pelo simples, o grandiloquente pelo modesto, o ofuscante pelo singelo. Sejamos assim equilibrados, sempre apanhando o fruto que está ao alcance do braço. Sempre fazendo planos dentro da realidade em que vivemos, nunca almejando o que está física ou fisiologicamente fora das possibilidades. O pigmeu jamais será um Adonis. Não coloque nos pés a sandália de Cinderela se veio ao mundo com a constituição do gladiador. Façamos o que estiver dentro do possível. Milagre não acontece a todo instante.

Não sofra por atencipação! Claro que vai sempre valer a pena ter amanhecido, ter se rebelado, ter se debatido, ter sobrevivido. Sempre valerá a pena ter se conhecido, ter virado a mesa, ter se socorrido, porque a vida é dos rijos, não descende o covarde dos fracos como disse o poeta. Trace, porém, planos que possa cumprir, faça projetos que possa concretizar, seja realista, não espere com um golpe de mágica reter o tsunami, colocar o oceano dentro da garrafa. A vida está aí para ser vivida sem truques nem viradas rocambolescas. Faça o simples. Faça o possível. Não queira inventar a quadratura do círculo nem ser um novo Colombo ou uma revisão melhorada de são Francisco de Assis. Se fizer o desataviado, o modesto, estará no caminho certo. Bem-aventurados os puros e humildes de coração! Seja um deles e estará nos planos de Cristo. Quer mais que isso?

Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP
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