Sempre que os países menos desenvolvidos se defrontam com um problema de pobreza seu primeiro impulso é solucioná-lo distribuindo auxílio. Infelizmente, já vou dar aqui minha posição, não há riqueza suficiente que lhes possa trazer alguma coisa mais do que o desapontamento. A distribuição da riqueza pode ser um problema de justiça social, mas sempre foi absurda em economia. A ajuda pode ser um incentivo, mas, a menos que seja cuidadosamente planejada e severamente administrada, pode inibir as energias dos beneficiários.
Países ricos precisam aliviar a fome dos povos famintos, precisam criar um banco mundial de alimentação para esse fim, mas, além do alívio para esses povos ameaçados de inanição, o auxílio deve ser sempre dado de forma discreta. A assistência social frequentemente causa a própria miséria que tanto esforça por minimizar porque provoca dependência. As pessoas a quem tais auxílios são destinados, muitas vezes, são impedidas a resolver seus problemas por si mesmas, e na verdade são até punidas se o tentarem, pela supressão dos auxílios, por exemplo.
Como não somos economistas, para emitir uma posição palatável nesse assunto procuramos auxílio científico em Peter F. Drucker, a fim de não cometer heresias que firam ensinamentos mais comezinhos nesta seara. A filantropia pode, sim, ferir quem tem amor-próprio. A ajuda, contudo, entendemos como necessária, indispensável muitas vezes, para evitar o colapso, como o caso do norte e nordeste brasileiro, onde séculos de injustiça criaram a frustração e o hábito da derrota. E porque o mundo é uma comunidade, a ajuda é necessária para os pobres e famintos onde quer que estejam, na Índia, na África, na América Latina.
A filantropia, todavia, é necessária apenas como um socorro a ser prestado até que chegue o médico. Apenas para os que estão completamente despojados, o primeiro socorro é tão útil como o médico. Aqui, então, citemos de novo o Brasil, que não pode continuar lançando mão da assistência social como um recurso de esperteza para determinados bolsões políticos. Alguns desses partidos populistas, maliciosamente, vêm fazendo da distribuição pouco arrazoada de bolsas e similares, um frenesi de campanha para manter-se no topo do poder. Nada menos meritório do que enviesar o objetivo de um projeto humanitário para fins individualistas e de finalidades muitíssimo duvidosas. Impossível acreditar que essa ajuda possa ou deva ser o caminho do desenvolvimento. Significa, isso sim, a condenação, neste caso, desses pobres brasileiros a não terem desenvolvimento algum.
Esses programas assistenciais, como dissemos, postos em prática por partidos populistas só fazem para dar mais visibilidade à cara de pau de seus líderes, que se sentem endeusados e cada vez mais fortalecidos em seus currais eleitoreiros. Até agora, o Brasil não provou sua capacidade construtiva nem salvou o país da miséria. Precisamos de ombridade para admitir que essas discutíveis benemerências jamais impulsionaram a produtividade e o crescimento.
Temos desperdiçado recursos, distribuindo-os em parcelas pequenas que não podem ter impacto algum. Nosso governo popularesco está pouco interessado em preservar condignamente os direitos individuais, especialmente o direito a uma vida digna. Além do mais, falta-nos uma visão mais ampla, uma convicção que admita também oportunidades, realizações sociais capazes de promover, por meio de políticas afirmativas, a eliminação de desigualdades historicamente acumuladas. As classes pobres de nosso país revelam uma tendência à acomodação, estagnação, impotência — causada muitas vezes pelos próprios governos a que estão submetidas, como um recurso esperto e descarado para a manutenção do poder.
Vamos repetir à exaustão, a ajuda é necessária, a filantropia é, por assim dizer, um primeiro socorro a ser prestado até que chegue o médico. Somente para os que estão completamente despojados, condenados a morrer, — para estes o primeiro socorro é tão útil como o médico. Mas, acreditar que a ajuda possa ou deva ser o caminho do desenvolvimento, significa condenar os pobres a não ter desenvolvimento algum.
O estado hoje, especialmente num país populista como o Brasil, detém quase um monopólio da compaixão. Coisa mais bizarramente específica: a esquerda defensora desse estado assistencialista, inchado, aproveita para taxar de insensível e egoísta quem difere de seu modus operandi. É, pois, urgente repensar essa maneira errada de ajudar quem necessita. As variedades de assistencialismo seriam mais eficazes se não houvesse nenhum envolvimento estatal. Como dizia meu professor de Filosofia do Direito, todo bem que o estado faz, o faz muito mal.