Qual o conselho a dar hoje a um jovem de 15 anos metido numa escola desatualizada, em algum lugar da Índia, do México ou do Brasil? Isso nos leva àquela frase, tão repetida em décadas passadas, lembra-se?, que falava em não confiar em ninguém com mais de 30 anos. Conselho repetido exaustivamente por gerações mais jovens, incitava, nesses dizeres atribuídos ao americano Jack Weinberg, a desprezar verdades absolutas e, paralelamente, a cultuar a sensação de que temos todo o tempo do mundo, segundo o "guru" Renato Russo, aquele tempo enorme para ser feliz. Seguir os mais velhos ou aproveitar mais a juventude para ser feliz, realizar sonhos? O tempo vai mesmo escoando lentamente, sem nos darmos conta, então, em quem confiar? Numa alma murcha onde só se expira um ar contaminado de amargura? Ou na frescura das almas jovens, cheias de expectativas e esperanças. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. No passado, era relativamente seguro seguir os adultos. Eles conheciam as coisas bastante bem e o mundo se transformava placidamente. Hoje estamos no século XXI, num ritmo de mudanças vertiginosas. Não estamos sugerindo um chute bombástico em tudo o que os adultos estão nos deixando. Absolutamente, há adultos e adultos, não sei se o leitor me entende. Há os deliberadamente envoltos num parasitismo, num preconceito ultrapassado e há os detentores daquela sabedoria atemporal aliada à predisposição de seguir as reviravoltas malucas das ciências. Então, é isso: em quem você pode confiar? Possivelmente, nessa ala mais progressista, menos acomodada e mais aberta às mudanças, sem, contudo, desprezar a cultura sedimentada através dos anos. Mas, devido ao ritmo acelerado das mudanças deste século, está difícil saber se o que os adultos estão dizendo é fruto da sabedoria ou de opiniões, estas chamadas outrora por Gustavo Corção de "fibromas da inteligência". Não é perigoso aceitar verdades sem contestação? Sinceramente, não estou muito segura de minhas convicções e nem me sinto autorizada a apontar caminhos.
Será que se pode confiar na tecnologia? Não é arriscado? Sim. Se ela passar a ter um poder demasiado na sua vida, você pode acabar tornando-se refém dela. Repare nesses caras que andam pelas ruas ou que se acomodam nos bancos dos carros com o rosto enfiado nos celulares, como se o mundo só existisse para eles e para a sua tecnologia. Você acha que eles estão controlando a tecnologia ou é a tecnologia que os está controlando?
Será que você deve confiar em si mesmo? Seguir o "conhece-te a ti mesmo" de Sócrates? É uma bela frase, incensada há três mil anos, mas difícil de ser posta em prática porque a maioria das pessoas não se conhece e quando tenta "ouvir-se a si mesma" torna-se presa fácil de manipulações externas. Não é confiável a voz que ouvimos em nossas cabeças, porque são quase sempre reflexos de propaganda política ou comercial, lavagem cerebral e até da manipulação de desejos e emoções. Ninguém melhor do que a Coca-Cola e a Amazon para saber como controlar seu coração e manejar seu cérebro. Será que você ainda sabe dizer qual a diferença de entre seu "eu" e os especialistas que trabalham para esses dois gigantes do mercado?
Atualmente, não está fácil saber quem você é e o que deseja da vida. Então, vamos desistir de seguir a máxima socrática? Pelo contrário, não é aconselhável desistir, apesar de estarmos vivendo uma era de hackeamento humano. Neste exato momento, estamos sendo observados por algoritmos que, a cada dia, nos conhecem mais. Eles nos conhecem melhor do que nós mesmos e estão controlando e manipulando nossas vidas.
Então, sob o jugo desses algoritmos acabou a possibilidade de sermos felizes? Aconselham alguns mais desencanados: deixe a vida correr e relaxe, não adianta fazer nada a respeito, os algoritmos estão cuidando de tudo. Perdemos, então, o controle de nossa existência? O jeito é correr mais que os algoritmos, mais rápido que a Amazon e a Coca-Cola e conseguir conhecer a si mesmo melhor do que eles conhecem. Será que dá tempo? Tarefa inglória? Corra, eles estão loucos para hackear você. Não o seu computador, não a sua conta bancária nem seu smartphone, mas para hackear você e seu sistema operacional orgânico. É triste dizer, mas estamos vivendo a época do hackeamento humano. Fazer o quê, então? Provisoriamente, salvo melhor juízo, adotar a posição de Yuval Nohah Harari: "Para correr tão rápido, não leve muita bagagem consigo. Deixe para trás suas ilusões. Elas são pesadas demais." O conselho é não ficar muito próximo do vaticínio de um apagão (?) do "homo sapiens", portanto, corra, não capitule, resista.