O governo dos Estados Unidos está trabalhando furiosamente nos bastidores para manter os aliados europeus unidos contra a Rússia, enquanto Moscou corta ainda mais seu fornecimento de energia para a União Europeia, provocando pânico em ambos os lados do Atlântico sobre a escassez de gás, potencialmente grave, no inverno, dizem autoridades dos EUA.
Na segunda-feira (25), a estatal russa de gás Gazprom disse que cortaria pela metade os fluxos do gasoduto Nord Stream 1 para a Alemanha, para apenas 20% de sua capacidade.
Uma autoridade dos EUA disse que a medida é uma retaliação às sanções ocidentais, que coloca o Ocidente em "território inexplorado" quando se trata de saber se a Europa terá gás suficiente para passar o inverno.
Em resposta à situação, a Casa Branca enviou o coordenador presidencial de energia global Amos Hochstein para a Europa, na terça-feira (26), disseram autoridades. Ele viajará para Paris e Bruxelas para discutir planos de contingência com a força-tarefa de energia EUA-UE criada em março, um mês após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
"Este era o nosso maior medo", disse o funcionário dos EUA. O impacto na Europa pode repercutir nos EUA, elevando os preços do gás natural e da eletricidade, disse a autoridade. Também será um grande teste de resiliência e unidade europeias contra a Rússia, já que o Kremlin não mostra sinais de retirada da Ucrânia.
Os EUA e Bruxelas têm pedido aos membros da UE que economizem gás e o armazenem para o inverno e, na terça-feira, os ministros da Energia concordaram, em princípio, em reduzir o uso de gás em 15% de agosto a março.
Também haverá discussões nos próximos dias sobre o aumento da produção de energia nuclear na Europa para compensar a escassez de gás, disseram autoridades. A Alemanha planejava eliminar completamente o uso de energia nuclear até o final de 2022, mas autoridades dos EUA esperam convencer Berlim a prolongar a vida de suas três usinas nucleares restantes em meio à crise de energia, disse uma autoridade.
Autoridades dos EUA, que estiveram em contato próximo com autoridades alemãs e francesas sobre esse assunto, estão extremamente preocupadas com o fato de a Europa enfrentar uma grave escassez de gás no inverno. Isso ocorre porque os países da UE terão dificuldades para preencher suas reservas nos próximos meses, com o Nord Stream 1 fornecendo apenas uma fração de sua capacidade.
A Alemanha descartou planos para outro gasoduto Rússia-Europa, Nord Stream 2, depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro.
Os EUA se opuseram a esse gasoduto, alertando que isso só aumentaria a dependência europeia do gás russo. Mas a Alemanha argumentou que o oleoduto era um projeto puramente comercial e que poderia servir como uma ponte de energia à medida que eliminasse a energia nuclear e o carvão.
Os EUA finalmente emitiram isenções permitindo que o projeto do oleoduto avance sem sanções paralisantes.
Agora, autoridades disseram que um corte de 15% no consumo de gás da Europa, juntamente com um aumento nas exportações globais de gás natural liquefeito para a Europa, inclusive dos EUA, provavelmente não será suficiente para compensar a escassez.
"Esta é uma guerra aberta de gás que a Rússia está travando contra uma Europa unida", disse o presidente ucraniano Volodymr Zelensky na terça-feira. A autoridade dos EUA disse que está claro que os russos estão "atacando" e tentando "desestabilizar a Europa" porque não estão alcançando seus objetivos na Ucrânia.
Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional chamou as medidas da Rússia apenas de suas últimas tentativas de "usar o gás natural como arma política e econômica".
"A coerção energética da Rússia pressionou os mercados de energia, aumentou os preços para os consumidores e ameaçou a segurança energética global. Essas ações apenas reforçam a importância do trabalho que os Estados Unidos e a Comissão Europeia estão fazendo para acabar com nossa dependência da energia russa", disse o comunicado.
"Continuaremos trabalhando com nossos parceiros europeus para reduzir a dependência da energia russa e apoiar seus esforços para se preparar para uma maior desestabilização russa dos mercados de energia".
Fonte: CNN Brasil