A informação foi dada à Agência Brasil pelo presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Antonio Geraldo da Silva. O tema central é Psiquiatria e pandemia: impacto, lições e novos paradigmas.
Este é o segundo evento presencial da associação, após os dois anos da pandemia de covid-19. No ano passado, a instituição realizou o 38º CBP, em Porto Alegre, seguindo as normas de segurança sanitária e com número reduzido de participantes. Em 2022, foram realizados três eventos presenciais pela associação: o 7º Curso ABP/Associação Mundial de Psiquiatria (WPA) de Atualização em Esquizofrenia, a 9ª Jornada Nacional de Emergências Psiquiátricas e o 6º Simpósio Internacional de Neurociências da ABP em São Paulo, com o tema Espiritualidade e Psicofarmacologia.
Indagado sobre o que devemos esperar daqui para a frente, agora que a pandemia da covid-19 parece controlada, Antonio Geraldo da Silva lembrou que, em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou seu último relatório com vários dados e informações relacionados à saúde mental. No relatório, a OMS apontou que cerca de 5% dos brasileiros tinham depressão, representando 12 milhões de pessoas.
Em 2022, o Ministério da Saúde publicou a pesquisa Vigitel Brasil, contendo dados relativos ao ano de 2021. “Pela primeira vez a depressão foi incluída no estudo, que revelou que cerca de 11% dos brasileiros têm essa doença mental, ou seja, 23 milhões de pessoas, um número bem acima do que foi apresentado apenas dois anos antes”, destacou o presidente da ABP.
Segundo Silva, o motivo mais aparente para o aumento da prevalência da depressão, além de outros transtornos mentais, é a pandemia do novo coronavírus. “Desde o início da pandemia, a ABP vem alertando sobre os possíveis impactos negativos na saúde mental da população, os quais chamamos quarta onda da covid-19. Agora, com os dados publicados pelo Ministério da Saúde, vemos que a previsão, feita pela instituição, se concretizou. Por isso, precisamos falar cada vez mais sobre a saúde mental, mostrar para as pessoas que esse assunto está no dia a dia de todos e é muito importante debatermos.”
Durante o congresso, diversas atividades vão abordar a temática da pandemia e seus impactos na saúde mental. Entre elas, estão mesas redondas Interações sociais e transtornos mentais reflexos da pandemia da covid-19, Ensino de Medicina no Contexto pós covid-19 e a conferência internacional Impacto psicológico da Covid-19: reflexões de uma perspectiva global.
Haverá também temáticas relacionadas à psiquiatria da infância e da adolescência, como o impacto da saúde mental materna no feto e no recém-nascido, os transtornos do neurodesenvolvimento e os transtornos de humor nessa faixa etária. Haverá ainda o curso gratuito Prevencão ao Suicídio, que abordará esse tema importante após um mês dedicado à campanha Setembro Amarelo.
O presidente da ABP afirmou que um dos fatores que devem ser priorizados pelo psiquiatra no tratamento de um paciente com doença mental é a preservação da qualidade de vida. “É fundamental a preservação da qualidade de vida”. Destacou também o estabelecimento de rotinas para sono e alimentação, a prática de exercícios físicos e a alimentação saudável, que ajudam a manter a saúde física e mental.
“Buscar fortalecer os laços sociais, de amizade, manter-se próximo da família e amigos, ter autoestima elevada, religiosidade - independente da filiação religiosa, além do acesso a serviços de saúde e cuidados com a saúde mental”, completou.
Silva considera ainda que o apoio da família é um elemento importante para o convívio social do paciente. “Sim, o apoio da família e dos amigos é fundamental, desde o processo para buscar ajuda e tratamento até o apoio para o retorno ao convívio social. Muitas vezes, os familiares são os primeiros a perceber que há algo diferente e apontar a necessidade de buscar auxílio psiquiátrico; e é na família que se dá início ao processo de socialização”.
Na avaliação do vice-presidente da ABP, Claudio Meneghello Martins, o CBP é uma grande oportunidade de congraçamento, de encontro científico, de troca de ideias e, em especial, de sedimentação do conhecimento. “A ideia do congresso é essa: sedimentação do conhecimento e, por conseguinte, o maior beneficiário, sem dúvida nenhuma, são os pacientes e a assistência em nível público e privado. Que a gente possa ter ações de promoção da saúde, de quebra ao estigma da doença mental.”
Para Martins, o congresso tem o objetivo de difundir o conhecimento para a população e, por conseguinte, propiciar que as pessoas busquem assistência para prevenir agravos de doenças e intervenção para as doenças que já estão instaladas. “O congresso foca para que todos possamos potencializar, não só os profissionais, porque o conhecimento tem que ser divulgado para a população como um todo. Não adianta só o conhecimento intramuros. Ele tem que ser divulgado. Esse é o nosso propósito”, concluiu Martins.
* A repórter viajou a convite da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Fonte: AgĂȘncia Brasil