Ele foi condenado a 400 anos de prisão pela morte de 71 pessoas e deveria ficar na cadeia até o ano de 2104. Mas Pedrinho Matador, que era considerado o maior assassino em série do Brasil e estava em liberdade desde 2017, foi morto a tiros, aos 68 anos, em frente à residência onde morava em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, na manhã deste domingo (5).
Pedro Rodrigues Filho nasceu no dia 29 de outubro de 1954, em uma fazenda na cidade de Santa Rita de Sapucaí, no sul de Minas Gerais, e seu histórico de assassinatos começou muito cedo. Mais precisamente aos 14 anos, quando matou o vice-prefeito de Alfenas, município mineiro.
A morte do político aconteceu por uma vingança do então garoto. O pai de Pedrinho, Pedro Rodrigues, trabalhava como guarda de uma escola e foi acusado de furtar merendas destinadas aos alunos. Acabou sendo mandado embora "sem direito a nada", de acordo com o criminoso. Motivado pelo ódio, Pedrinho planejou tirar a vida do vice-prefeito. "Esperei ele em frente à casa dele, atrás de uma árvore. A hora que ele desceu do jipe foi a hora que eu dei o primeiro tiro", contou em uma entrevista à Record TV. "Eu simplesmente sou um assassino. Eu sempre fui", definiu a si mesmo ao contar sua história.
Apesar de ter matado o político a tiros, Pedrinho tinha preferência por facas para executar suas vítimas e usou a arma na maioria dos crimes que cometeu. Ele tinha inclusive tatuagens com desenhos de punhais espalhados pelo corpo e também a frase "mato por prazer" no braço esquerdo.
Depois que cometeu o primeiro assassinato, o rapaz não parou mais. Em entrevistas, Pedrinho não demonstrava remorso quando falava sobre as pessoas que matou. Em sua visão, agia como um "justiceiro" e tirava a vida de quem julgava merecer. "Eu mato pessoas que não valem nada. Eu nunca matei uma criança ou um idoso", contou.
Dos 68 anos que viveu, 42 deles foram atrás das grades. Pedro foi preso pela primeira vez aos 18 anos, em 24 de maio de 1973. Após 34 anos, teve redução da pena por ter trabalhado na cadeia e foi solto em 2007, quando recebeu um indulto.
Entretanto, Pedrinho voltou ao presídio quatro anos depois pelos crimes que cometeu dentro do sistema prisional: o assassinato de 40 pessoas. "Eu sempre tive uma filosofia só: se eu mato na rua, eu mato na cadeia também", disse.
De acordo com o próprio assassino, ele teria matado presidiários em celas, refeitório, pátio e até no veículo que transporta os detentos. "Pedrinho Matador" foi transferido para diversos presídios do estado de São Paulo, inclusive para um anexo da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté.
"Matar uma pessoa é a coisa mais fácil. Só apontar, atirar e já era", disse o assassino em série. Embora tenha sido condenado por 71 homicídios, Pedrinho confessou ter tirado a vida de mais de cem pessoas — entre elas, o próprio pai.
A raiva e o rancor que Pedrinho sentia por seu pai já vinham sendo nutridos havia muitos anos. Segundo o matador, Pedro Rodrigues costumava agredir a esposa e chegou a chutar sua barriga durante uma briga quando ela estava grávida de Pedrinho. Por isso, o assassino nasceu com um ferimento no crânio.
Muitos anos depois, o pai foi o responsável pelo assassinato da mulher e ficou recluso no mesmo presídio em que Pedrinho estava. Quando o filho descobriu, fez uma promessa para a mãe em frente ao seu caixão: "A pessoa que fez isso vai pagar da mesma forma".
"Meu pai tirou a vida dela e quem tirou a vida dele fui eu. Ele deu 21 facadas na minha mãe, então eu dei 22 nele", contou. "O povo diz que comi o coração dele. Não, eu simplesmente cortei, porque era uma vingança, não é? Cortei e joguei fora. Tirei um pedaço, mastiguei e joguei fora", explicou.
Em uma entrevista feita pela Record TV em 2019, Pedrinho demonstrou arrependimento em ter matado o próprio pai. Quando questionado sobre se ele seria capaz de tirar a vida de uma pessoa novamente, ele disse que faria isso só "em último caso".
"Só se estiverem tentando tirar a minha vida ou a vida de uma pessoa que eu gosto. Não quero mais saber de matar não, não quero lembrar", disse Pedrinho. "Eu sentei para pensar sobre qual caminho eu ia seguir, porque gente para matar eu tinha, tinha de monte. Mas eu vou matar para a polícia me matar ou me mandar para a cadeia de novo? Eu já estou velho para isso", afirmou.
"Imaginem alguém que começou a receber as pancadas da vida ainda na barriga da mãe. Era matar ou morrer." Pedro Rodrigues Filho usa esta frase para iniciar o texto de apresentação de seu canal no YouTube chamado Ex-Pedrinho Matador, criado em 2018, quando ele já estava em liberdade.
Na conta, com quase 9.000 inscritos, Pedrinho compartilhava vídeos que mostravam sua rotina, além de fazer comentários e análises sobre crimes. "Quando o desejo da mudança é sincero, o universo conspira a favor, pondo as pessoas certas nos lugares certos. Até mesmo aqueles que são vistos e estigmatizados como o mal podem encontrar a luz", escreveu.
Pedro também contribuiu para que biografias sobre si próprio fossem escritas. Eu não Sou um Monstro, de Iza Toledo; Pedrinho Matador — A Biografia, por Pablo do Nascimento Silva; e Doze Dias: A História do Maior Assassino em Série, de Danísio Feitosa, contam a história de vida do homem.
Em entrevista, Pedrinho Matador disse colecionar fãs. "Essas pessoas me admiram porque eu mato pessoas que não prestam. Essas pessoas têm a mesma filosofia que eu: matar quem não vale nada, quem elas não gostam".
Íntimo da morte, Pedrinho deixou de ter medo dela. "Antes eu tinha medo porque eu matava para não morrer. Hoje eu não tenho mais. Vai chegar minha hora, eu vou fazer o quê?", questionou.
O homem disse que por muitos anos foi assombrado pelas vítimas que matou. "Eu ouvia vozes. Pessoas que eu já tinha matado conversavam comigo através de cobras, de outros animais. Eu tinha pesadelos e, quando eu sonhava com elas, eu matava de novo no sonho", contou.
O assassino em série foi morto a tiros em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, na manhã deste domingo (5).
Segundo a Polícia Militar, um carro preto se aproximou quando Pedrinho estava parado na calçada da casa onde vivia, por volta das 10h. Um dos ocupantes disparou pelo menos quatro vezes em sua direção.
O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi acionado e confirmou a morte de Pedrinho ainda no local.
As equipes da 1ª Companhia do 17º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano preservam a área. Ainda não há informações sobre a motivação do crime nem sobre os responsáveis pela morte.