Cursinhos de pré-vestibular e escolas do ensino médio (antigo 2º grau) de Brasília descartaram de vez o uso do termo descobrimento do Brasil para explicar o desembarque da esquadra de Pedro Álvares Cabral na costa brasileira em 22 de abril de 1500.
A maioria das escolas vem adotando as expressões "tomada de posse", "invasão" ou "conquista" em substituição ao tradicional descobrimento.
Até "achamento" -vocábulo adotado pela maioria dos livros didáticos atuais- é considerado ultrapassado pelas escolas e cursinhos de Brasília.
"Achamento e descobrimento são praticamente a mesma coisa e não refletem o que aconteceu porque quem achou o Brasil foram os índios, não os portugueses. O mais correto é usar conquista ou invasão", defende Ana Filipini, coordenadora de história do curso Pré-Universitário e do Colégio La Salle.
As escolas também evitam usar a palavra "descobrimento" para classificar o desembarque de Cabral no sul da Bahia por causa dos indícios de que outros navegadores -portugueses e espanhóis- já teriam pisado em terras brasileiras antes de abril de 1500.
O coordenador do departamento de história do Objetivo, Sinval Fernandes, também defende o uso da expressão "tomada de posse" no lugar de "descobrimento".
"Explicamos aos alunos que o que houve, na verdade, foi a tomada de posse de uma área que pertencia a Portugal desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, mas que já havia sido achada por outros, antes do desembarque de Cabral", afirma Fernandes.
Os professores também afirmam que o uso de expressões como "conquista" e "tomada de posse" reforçam a idéia de intencionalidade da viagem de Cabral, enquanto "descobrimento" está mais atrelado à hipótese, hoje quase descartada, de que o navegador chegou ao Brasil por obra do acaso.
"Descoberta dá a impressão de casualidade. Mas os portugueses já sabiam da existência do Brasil muito antes de Cabral ter chegado. Mapas antigos já apontavam a existência de terras por aqui. A assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494, é a maior prova de que os portugueses já sabiam que o Brasil existia", diz Fernandes.
Vestibular A polêmica sobre a terminologia mais adequada para classificar a chegada de Cabral ganhou força neste ano porque os cursinhos acreditam que os 500 anos do descobrimento serão um dos temas da redação do vestibular da UnB.
"Até agora as questões da UnB têm sido mais voltadas para o período após 1530 do que para o descobrimento em si. Mas, neste ano, é improvável que eles não coloquem questões sobre o descobrimento", afirma Ana Filipini.
Segundo professores ouvidos pela Folha, embora dedique poucas questões ao descobrimento, a UnB vem adotando a tese da intencionalidade há algum tempo.
A banca examinadora da prova de história do vestibular da UnB afirma que a questão do descobrimento do Brasil deve ser analisada no contexto do processo de expansão marítimo-comercial européia do início dos Tempos Modernos.
Em vez de "achamento", "descoberta" ou "invasão", a banca sugere a utilização da palavra "colonização" para definir todo o período. (DANIELA FALCÃO)