O escritor tcheco Milan Kundera, autor do renomado romance "A Insustentável Leveza do Ser", morreu aos 94 anos em Paris. Por meio de um comunicado, a editora Gallimard divulgou que a morte aconteceu na tarde de terça-feira, 11. "Infelizmente posso confirmar que o senhor Milan Kundera faleceu ontem, após uma prolongada doença", declarou Anna Mrazova, porta-voz da Biblioteca Milan Kundera, em Brno, na República Tcheca. Sarcástico ao retratar a condição humana em suas obras, Kundera é parte de um grupo restrito de autores que decidiu mudar de idioma na metade de sua carreira literária. Marcado pelo totalitarismo comunista que subjugou seu país durante grande parte do século XX, Kundera iniciou a carreira literária com uma coleção de poemas em tcheco, "Člověk zahrada čirá". O autor passou a escrever em francês em meados dos anos 1980, quando já morava em Paris, cidade na qual viveu até o fim de sua vida ao lado da esposa, Vera. Nascido em 1º de abril de 1929 em Brno, segunda maior cidade tcheca, Kundera publicou em 1967 seu romance de estreia, chamado "A Brincadeira". Ele teve sua nacionalidade tcheca retirada depois de cair em desgraça com as autoridades de seu país durante a Primavera de Praga, o movimento reformista de 1968 esmagado militarmente pela União Soviética.
Kundera adotou a nacionalidade francesa em 1981 e só recuperou a cidadania tcheca em 2019. Ele foi um dos raros autores vivos incluídos ainda em vida na prestigiosa coleção literária "La Pléiade", da Gallimard. O romance que o consagrou internacionalmente foi "A Insustentável Leveza do Ser", publicado em 1984, um retrato sarcástico da condição humana e um dos livros contemporâneos mais influentes. Outro destaque da sua carreira literária é a obra "Risíveis Amores". Como muitos exilados, a relação com seu país foi complexa, inclusive após o retorno da democracia ao bloco do leste europeu. Alguns intelectuais tchecos criticavam as poucas ações públicas de Kundera a favor de sua cultura natal. As obras do autor foram traduzidas para mais de 50 idiomas. Ele visitava com frequência a República Tcheca e sua cidade natal, mas quase sempre de maneira incógnita. "Imensa tristeza. Milan Kundera havia escolhido a França para nunca deixar de ser livre. Ao longo de muitas páginas ele nos ajudou a descobrir quem somos, a encontrar um caminho entre o absurdo do mundo. Com ele, morre uma das maiores vozes da literatura europeia”, publicou a ministra francesa da Cultura, Rima Abdul Malak, no Twitter.
*Com informações da AFP.
Fonte: Jovem Pan