Devido aos últimos incêndios ocorridos em nosso município, o Jornal Cidade de Agudos solicitou uma avaliação do engenheiro florestal José Luiz da Silva Maia que possui um vasto conhecimento na área.
Primeiramente agradeço ao Jornal Cidade de Agudos a oportunidade de tratar de um assunto que foi parte importante de minha carreira de engenheiro florestal atuando em empresas florestais. Agora, na aposentadoria, tenho me dedicado às auditorias florestais, como consultor independente, e o tema está sempre presente nos meus trabalhos porque é muito estratégico para a indústria que tem na madeira sua principal matéria prima.
Iniciei minha carreira na CAFMA, do grupo Freudenberg, em janeiro de 1982. Um ano depois assumi entre minhas atribuições o sistema de prevenção e combate aos incêndios florestais da Fazenda Monte Alegre. Quando a Duratex, atual DEXCO, comprou a Freudenberg, prossegui carreira envolvido com a proteção florestal. Em mais de 40 anos, com a colaboração de brigadistas extraordinários, pudemos alcançar excelentes índices de eficiência nos incêndios combatidos nessas duas empresas.
Sobre esses dois incêndios ocorridos agora, nos dias 06 e 07 de agosto, aqui em Agudos, eles nos servem de exemplos para alertar que atravessamos mais um período crítico, com alto risco de incêndios rurais e florestais. O tempo seco e o vento favorecem muito a propagação do fogo na vegetação ressecada pela seca, e todo o cuidado é necessário.
No dia 06, última terça-feira, passando pela Rua Newton Dávila, em frente a chácara que faz divisa com o Parque Esmeralda, vi o fogo no seu início. Fui uma das pessoas que alertaram os bombeiros e a DEXCO que faz divisa com a chácara, do outro lado do Córrego dos Agudos. Foi rápida a ação do Corpo de Bombeiros de Agudos e da brigada da DEXCO, mesmo assim o vento forte fez o fogo alastrar-se rapidamente queimando pasto, árvores isoladas e a borda do remanescente da vegetação nativa. A origem do fogo deve estar em investigação em curso. Além da perda de parte da pastagem, o fogo causou danos à vegetação nativa, o que é grave. Porém gravidade maior tem relação com a densa fumaça que foi em direção da cidade e, como se sabe, pode causar graves crises respiratórias às pessoas, principalmente às crianças e idosos.
A fumaça alta do incêndio do dia 7, quarta-feira, vi de casa, por volta de 10h00. Mesmo aposentado, liguei para os colegas da DEXCO, hábito de ofício. Pela prática, imaginei que poderia estar em canavial próximo de fazenda da empresa mais no sentido de Lençóis Paulista. Certamente meu aviso chegou muito depois desse fogo ter sido detectado pelo sistema de telemetria instalado em torre da empresa. Me chamou a atenção que esse fogo só foi controlado no final da tarde. À noite, pelas redes sociais vi as filmagens do Bano Drone, a quem cumprimento pela qualidade da gravação. Pela gravação no Instagran é possível ver que o fogo atingiu canaviais, reflorestamentos, área de vegetação nativa e o que me pareceu ser uma construção precária. A seca e o vento podem explicar a extensão de área atingida pelo fogo, mas algum outro motivo deve ter dificultado o combate a esse incêndio, e isto ainda será apurado pelas brigadas das empresas afetadas e o Corpo de Bombeiros.
Felizmente nos dois casos não houve vítimas entre os combatentes do incêndio ou a outras pessoas. Entretanto isso pode acontecer, incêndios rurais e florestais podem causar até a morte de pessoas. No maior incêndio florestal ocorrido no Brasil, no estado do Paraná, morreram mais de 130 pessoas.
Pelos danos ambientais, econômicos, sociais e o alto risco à saúde e à vida das pessoas, os incêndios rurais e florestais devem ser prevenidos e combatidos. Para isso existe toda uma ciência desenvolvida aqui mesmo no Brasil. Temos bons fabricantes de equipamentos para o combate a esses incêndios, especificamente desenvolvidos para a ação em matas e áreas cultivadas, com veículos robustos para enfrentar as estradas rurais e chegar ao local do incêndio. Nossa aviação agrícola tem feito extraordinários trabalhos de combate ao fogo e aqui em Agudos tivemos mostra dessa eficiência no incêndio combatido em 05/09/2021. Nesse dia, a aeronave pilotada pelo Ricardo Volpe, fez 6 lançamentos de água, extinguindo as chamas com 12 mil litros de água. O fogo não queimou mais do que duas horas, sendo que no ano anterior a mesma área ficou queimando por três dias. Acredito que ainda esteja na internet imagens desse combate aéreo que foi feito com um Air Tractor modelo 502B.
Nessa rápida exposição dá para perceber que temos tecnologia e gente qualificada para detectar e combater os incêndios rurais e florestais. Mas então porque há tantos incêndios no Brasil e aqui mesmo na nossa região todo o dia assistimos levantar fumaça de mato, cana e pasto queimando? Nos faltam algumas coisas. Em primeiro lugar é o descuido no uso do fogo. Precisamos acabar com os costumes de queimar lixo, restos de podas, folhas de árvores e soltar balões. Nos dias atuais não se justifica mais a queimada agrícola para limpeza e preparo do solo para plantio ou renovação de pastagem. Precisamos mudar a atitude quando do uso do fogo na queima de lenha, seja no fogão a lenha, no forno de olaria, numa secadora de grãos, na fabricação de carvão, nas fogueiras acesas em pescarias e acampamentos.
Existem etapas que precisam ser seguidas à risca para impedir que os princípios de incêndio evoluam para tragédias. Pensando nos incêndios rurais e florestais, basicamente essas etapas abrangem: 1) Prevenção; 2) Treinamento de brigadistas; 3) Detecção rápida; 4) Combate imediato; 5) Rescaldo; 6) Avaliação de causas do incêndio e da ação desenvolvida; 7) Implementação de melhorias para evitar novas situações de perigo. Outras medidas indispensáveis: 1) Organização de sistema comunitário de prevenção e combate ao fogo; 2) Campanhas de educação e conscientização da comunidade; 3) Difusão de práticas e técnicas de prevenção e combate ao fogo na área rural. Para cada uma dessas etapas e medidas há o passo a passo a ser seguido, o importante é colocar em prática.