O perigo do excesso de exposição às telas

Por Jornal Cidade de Agudos em 21/07/2023 às 11:51:45

Estávamos a caminho de uma educação digital, aprendendo a utilizar a internet e seus recursos de maneira balanceada. Porém, a pandemia do coronavírus desestruturou essa rota, criando dificuldades para controlar o uso dos dispositivos eletrônicos e o tempo que as crianças passam na frente deles. Antes de mais nada é importante ressaltar que os computadores, telefones celulares e "tablets" são importantes meios de entretenimento, possibilitando a aprendizagem e a interação social entre as pessoas. No entanto, seu uso excessivo pode causar efeitos nocivos à saúde. Trata-se de um fato preocupante pois, após o isolamento social, as crianças estão ficando cerca de metade do dia diante das telas eletrônicas.

O maior prejuízo recai sobre o nosso ritmo circadiano, também chamado de "relógio biológico", que são as mudanças físicas, mentais e comportamentais que seguem um ciclo de 24 horas, respondendo à luz e à escuridão. Durante a noite, a luz emanada desses dispositivos pode confundir nosso ciclo diário, causando distúrbios do sono. O excesso de tempo nas telas também faz com que as crianças deixem de realizar exercícios físicos, levando ao prejuízo do repouso noturno. Além disso, seu uso durante o almoço e jantar prejudica a nutrição infantil pois elas deixam de sentir os sabores e consistências dos alimentos. Os resultados, no futuro, serão o desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade, diabetes e depressão.

Os sistemas de recompensa do cérebro também ficam prejudicados. Ao atingir os objetivos propostos pelos jogos eletrônicos, a criança fica compelida a passar mais tempo nas telas, ativando mais ainda as áreas cerebrais relacionadas à satisfação pessoal. Dessa forma, os circuitos neurais responsáveis pelo desenvolvimento da inteligência, tornam-se subdesenvolvidos ou anormalmente desenvolvidos na idade adulta, aumentando o risco de desenvolvimento de demências senis.

Além disso, podemos enumerar diversas outras alterações no organismo das crianças e adolescentes, como desvios de coluna, irritabilidade, ansiedade, déficit de atenção, hiperatividade, sedentarismo, transtornos da autoestima, comportamentos autolesivos e riscos aumentados de violência sexual e suicídio.

Sempre que as crianças iniciarem o uso dessas tecnologias, devemos estabelecer limites e regras de uso. O ambiente digital é importante para aproximar crianças de parentes e amigos, bem como para estudo e diversão. Devem ser estimulados os jogos e filmes educativos, assim como ferramentas lúdicas, tanto no mundo em que vivemos como no virtual. Todos os conteúdos precisam ser supervisionados. Definam as áreas da casa onde as crianças podem usar os dispositivos eletrônicos para que os adultos possam observá-las. Não as deixem sozinhas ou escondidas enquanto estiverem utilizando esses aparelhos. Desliguem as telas durante as refeições e uma a duas horas antes de dormir.

E o mais importante: reservar momentos de desconexão para a maior convivência familiar. Estimulem os hábitos saudáveis de vida como boa alimentação e prática de atividades físicas ao ar livre. As crianças não estão no mercado de trabalho e nem dependem de competitividade para alcançar seus objetivos. Evitar o excesso de uso da tecnologia digital e os danos ao desenvolvimento físico, emocional e social continua sendo papel dos pais ou responsáveis.

Como sempre, me coloco à disposição para responder às dúvidas.

Grande abraço a todos

Dr Eli Roberto Garcia Filho
CRM-SP 104.828
Médico alergologista pediatra
RQE: 66080/660801
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