Ultimamente, não tenho encontrado muitos motivos para ser alegre. Não que a vida me doa, como dizia o poeta, mas as bordoadas — mais, no aspecto político — têm sido tantas, que mais parece estar a existência toda voltada para o cinza opaco. Não é a vida que é má, não são os imponderáveis que sejam tão ruins a ponto de nocautear-nos. Então, o que é? O que acontece para nos deixar desorientados, de cabeça baixa e com o coração fora do ritmo?
Vejamos, antes de tudo, o que nos deixa amofinados. Embora estejamos usando a segunda pessoa do plural, fazemo-lo mais como um recurso literário, uma vez que não posso entrar na intimidade das pessoas e responder por elas. Quando muito, como articulista, posso ter um vislumbre do que anda ocorrendo na maioria dos corações brasileiros. É, pois, aí que é preciso determo-nos para auscultar o termômetro emocional do país.
E o que está acontecendo por estas plagas tupiniquins? Como deixei escapar logo nas primeiras linhas, o que mais vem aborrecendo a maioria dos cidadãos brasileiros é o aspecto político. Fala-se numa "mão grande" que, possivelmente, tenha acontecido nas eleições presidenciais. O Brasil está visivelmente dividido em dois: uma metade inclinada para o comunismo, de um lado, e, outra metade, reagindo e tentando a duras penas escapar de uma ideologia que não se mostrou eficaz em nenhum outro lugar do planeta. O pior de tudo é que os defensores da linha esquerdista querem ver atitudes golpistas por parte daqueles que não medem sacrifícios para derrubar tendências autocráticas e ditatoriais. Temos observado com cuidado, para não cair no ridículo, que são realmente os golpistas que apontam para a outra metade de direita, ironizando e achincalhando quem pretenda bloquear sua escalada. Não é possível que pessoas inteligentes, com QI razoável, não enxerguem certas medidas que vêm sendo postas em prática por uma elite que se diz detentora da lei. Nunca vi meu querido Brasil tão exposto a medidas legislativas cruéis e despóticas, a prisões arbitrárias, a pressões desarrazoadas, a contenção de prazos que impedem respostas em tempo hábil e tantas outras medidas que lembram a Rússia estalinista. Estamos vivendo um Brasil de horror, onde a liberdade está sendo posta de lado, para deixar uma horda sequiosa de poder à vontade para agir. Não iremos recorrer a nenhum livro de sociologia política, muito menos ao nome de nenhum jurista renomado, para amparar este nosso lamento que vem impedindo a alegria de um povo ordeiro e cheio de brio. Não é preciso nada disso. Queremos ser simples e desataviados para que todos, ao ler estas linhas, nos entendam, sem precisar do escudo de intelectuais e pseudojuristas mal intencionados. Sabemos que, quando alguém sem argumentos plausíveis quer engodar trouxas, recorre logo a um nome estravagante para justificar suas baboseiras. Não precisamos disso, os fatos estão aí para justificar nossas queixas e bradar contra desmandos que ferem a suscetibilidade.
Sim, ofereçam-nos um bom motivo para ser alegre. Quem sabe a alegria possa vir dessa garotada verde-amarela que, lá em terras distantes, está defendendo as cores da bandeira nacional. Foi bonito, neste final de semana, ver a rapaziada correndo nas quatro linhas do gramado e marcando gols contra um esquadrão vermelho (premonição)?Tudo se fez de forma correta, organizada, dentro de cânones previamente estipulados e respeitados. É, caro leitor amigo, temos, por quê, não?, um motivo para sorrir, agradecendo por um final de semana de bom futebol. Eis aí o motivo que procurávamos para ser alegre. Não é pouco nem muito. Um bom motivo, nada mais.
Quanto à política, voltemos aos fatos. Tudo está nebuloso, opaco. Uma cortina de fumaça impede-nos de enxergar mais longe. Ainda não sabemos o que irá acontecer dentro de uma semana, um mês, três ou mais anos. Muita coisa dependerá de nós, de nossa firmeza contra a opressão que nos tira a alegria, mas que pode ser enfrentada com denodo, patriotismo e firmeza. Carantonha assusta criança, gente fraca, sem sangue nas veias e sem amor à pátria. Lembramo-nos agora que, na última semana, terminamos o artigo evocando versos de Gonçalves Dias, que moram na minha alma brasileira. Repitamos agora esses mesmos versos, até os gravarmos nas entranhas: Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos, choraste. Não descende o covarde do forte. POIS, CHORASTE, MEU FILHO NÃO ÉS... Levante a cabeça, não desanime, seja brasileiro sempre, em qualquer circunstâncias. Pode-se lutar com palavras, com ideias, com exemplos. A luta, porém, terá de ser limpa, sem subterfúgios ou atitudes dúbias. Não permita que ultrajem nossa bandeira que é verde e amarela. Não é vermelha, nunca foi e jamais será. Vermelho lembra sangue e nosso povo tem ojeriza a isso.
Vamos viver este final de semana, deixando a esperança fluir. Sorria... acreditando na possibilidade de dias melhores. Até a próxima.
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP