Pela segunda vez, este abominável covid me pegou. Muitos diziam vai para a Unimed e eu, renitente, não fui. Quando eu e minha irmã fomos para lá, com a mesma insidiosa moléstia, minha irmã nunca mais voltou para casa. Ninguém sequer imagina a dor da saudade! Arde como brasa, deixa um travo amargo na boca que nada ameniza! Pensei assim, se é para morrer, morro em casa mesmo. E arrumei uma médica particular, meu anjo da guarda, que me tratou como filha. Aqui estou, cambaleando ainda, mas estou. Ela me pôs de pé e eu muito lhe devo.
Nestes dias que fiquei reclusa, vi como a vida é relativa. Tanto faz se você existe ou deixa de existir. Como dizia um filósofo italiano, se você ainda está por aqui ou não está mais, com você ou sem você il mondo va tal e quale. Comecei a folhar os jornais e ouvir rádio, depois que melhorei um pouco e vi que o planeta está uma barafunda. Nem vou mencionar outros países, que não o meu. Fico bisbilhotando por aqui mesmo, neste Brasil caótico que caminha sem rumo, sem um líder, sofrendo os desmandos, da censura, das prisões arbitrárias, do Perdeu, mané não amola. Mas ninguém faz nada, não aparece um líder, não surge aquele arquétipo do Salvador da Pátria. Já estava na hora, não estava? Vejo que nada mudou. Os que escondiam dólares da cueca, continuam aparecendo nas manchetes, os que que mandavam e desmandavam há anos atrás voltaram com tudo, como se nunca tivessem saído do poder, com uma nódoa a mais, agora eles contam com as costas quentes protegidos pelo TSE. E por falar nisso, li também a respeito do afastamento por 60 dias do prefeito de Tapurah, uma cidade mato-grossense, que segundo Alexandre de Moraes tentou subverter a ordem democrática. Ah! Esse país está me causando dou de estômago, desarranjo intestinal. Então o prefeito tentou bagunçar a ordem? Em vez de pacificar, pôr as coisas no lugar, os que se acham donos do poder ficam cutucando, remexendo onde não devem, fazendo ainda mais balbúrbia. Alexandre de Moraes deveria rever, revogar sua decisão e não ficar pondo lenha na fogueira. A competência para julgar o prefeito é do Tribunal de Justiça. É preciso acabar com essa história de ficar brincando com a democracia. O que a Constituição não distingue não compete a mais ninguém fazer. É difícil entender isso?
Estou ainda fraca com resquícios dessa maldita covid. Por isso, minha historinha para por aqui. Como vi que sou um número a esquerda, que não apito nada neste país, que os amigos nem sequer perceberam que essa doença maldita me afastou por uns poucos dias, que tanto faz eu ainda estar viva como não, é melhor eu raspar meus caraminguados tostões, pegar om jatinho que me leve para um lugar bem remoto e me deixe por lá, longe dessa civilização marota. Levarei uma provisão de remédio e de alimento, uns trapos para trocar e que me mantenham por algum tempo, alguns livros para alimentar o espírito que ninguém é só carne. Nem só se pão vive o ser humano, o tal de homo sapiens.
Agora vi que Rousseau estava certo. Tudo é bom ao sair das mãos do Autor da Natureza. Tudo degenera nas mãos dos homens. O Homem é bom a sociedade é que o deprava e infelicita. Vamos tentar viver como o bom selvagem. Quem sabe dará mais certo.
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP