Pretendemos usar neste texto, embora aleatoriamente, de algumas afirmativas de Norberto Bobbio (1909-2004), filósofo italiano, nascido em Turim, capital do Piemonte. De escritos concisos, lógicos e ainda assim densos, Bobbio defendeu a convicção da necessidade de um estado democrático, que limpasse o campo do perigo de uma política ideologizada, bem como de ideologias totalitárias tanto da direita como da esquerda. Esperava uma gestão laica da política e uma abordagem filosófico-cultural dela que ajudaria a superar a oposição entre capitalismo e comunismo e a promover a liberdade e a justiça.
Como o leitor pode deduzir, estaremos em boa companhia transmitindo pensamentos esparsos desse que foi um dos maiores pensadores da atualidade. "Considero-me — diz ele — modestamente uma pessoa que procura compreender antes de julgar." Para ele, a única antítese do mal, a única tentativa de superá-lo deve ser buscada na criação da vida moral.
A razão para que a moral se apoie em uma visão religiosa está mais na necessidade de se impor com mais força o respeito a ela. A regra áurea do "Não faças aos outros o que não gostarias que os outros te fizessem" pode ser encontrada em qualquer moral racional, mesmo naquela que parece mais distante de uma moral religiosa, qual seja, a moral utilitarista.
Para ele, não existe uma única moral laica (talvez não exista uma única moral religiosa). Os antigos contrapunham uma ética da virtude a uma ética da felicidade. Os modernos contrapõem uma ética do dever a uma ética da utilidade. Mas, o único princípio que se pode considerar propriamente laico é o da tolerância, quer dizer, o princípio que constata a multiplicidade de universos morais e daí se extrai a consequência de que é necessária uma pacífica convivência entre eles.
Disso se deduz que o pensamento laico é uma expressão essencial ao mundo moderno, no qual as Igrejas se reconhecem. A Constituição pastoral Gaudium et Spes (Alegria e Esperança), promulgada durante o papado de Paulo VI, é uma carta pastoral que pretende expressar a relação da Igreja com o mundo com o conjunto de homens não apenas com os católicos. Considerado um dos mais importantes documentos conciliares da Igreja, sobretudo por sua clara defesa da dignidade humana, da tolerância para com os ateus, dos direitos da mulher, entre outras coisas.
Onde pretendemos chegar ao expor ao leitor algumas posições de Bobbio? "O respeito e o amor devem se estender também àqueles que pensam e operam diferentemente de nós nas coisas sociais, políticas e até mesmo religiosas, pois com quanto mais humanidade entrarmos em seu modo de sentir, tão mais facilmente podemos com eles iniciar um diálogo". Sabe o leitor de quem são essas palavras? De Paulo VI e sua encíclica citada.
O que desejamos de coração? Que não se julgue levianamente, que não se busque só imperfeições, que se refute esse espírito de "revanche" e se instale no âmago de cada um uma firme vontade de dar fim ao inútil e frequentemente pérfido jogo de acusações recíprocas. Procuremos, antes de mais nada, compreender antes de julgar.
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP