Vamos falar brevemente sobre o planeta Terra, nossa morada, sem nenhuma pretensão física ou histórica. Apenas um esboço do que é esse chão que vimos pisando há bilhões de anos. Os estudos científicos dizem que a Terra será absorvida por um Sol em expansão dentro de mais ou menos 7,5 bilhões de anos e que este universo continuará a existir por pelo menos 13 bilhões de anos. E depois, quando deixarem de existir, o que acontecerá? Surgirá outro universo? Será o nada? O nada existe realmente? Nada é nada... Sei lá o que acontecerá. Não somos donos nem de nossas vidas, não sabemos o que acontecerá no momento seguinte, então seria pretensão demais querer tecer prognósticos para daqui a bilhões de anos.
Por que todas essas preocupações que, mais do que físicas, passam a ser metafísicas? Veja o caso de o povo judeu. Tanta briga entre israelenses e palestinos. Israelenses não querem dividir a cidade de Jerusalém, alegando que a cidade é "a capital eterna do povo judeu". Alguém, em sã consciência, acredita que Israel e Jerusalém ainda existirão dentro de 13 mil anos, que dirá 13 bilhões de anos? E há pessoas capazes de fazer sacrifícios em benefício da "cidade eterna", que provavelmente se recusariam a fazer um efêmero sacrifício pela própria família.
Os jovens na Alemanha também foram cativados pela lábia de Hitler que acreditavam que se dessem a vida pela nação viveriam "eternamente" num paraíso. Um país passa por tantas mudanças, transformações que é impossível prever o que acontecerá com ele em poucas décadas. Foi esse o caso a Alemanha mesmo. Perdida a guerra passou por situações antes inimagináveis. Não só hoje, em pleno século XXI, a busca humana por sentido acaba frequentemente numa sucessão de sacrifícios.
A vida das nações passa por mudanças algumas vezes radicais, difíceis de serem acompanhadas até mesmo por historiadores que acabam metendo o bedelho nas narrativas e torcendo a verdade. E se a vida dos países se modifica e alguns deles acabam até desaparecendo para sempre do mapa, que dizer então da existência humana que não passa de um sopro?
Por isso, nos parece insana essa briga pelo poder seja qual for o sistema de governo. Irmãos atacando irmãos numa luta que às vezes chega a ser fratricida. E essa luta não se efetua apenas dentro de um país — palestinos contra israelenses, em escala menor petista contra bolsonaristas —, essa luta é mundial: russos contra ucranianos, liberais contra comunistas, ligas de países contra países de ideologia distinta, e por aí vai. Somos sempre irmãos contra irmãos, porque todos pertencemos à raça humana.
O mundo está cada vez mais desiludido. Muros e sistemas protecionistas estão em voga, cresce a resistência à imigração, governos supostamente democráticos solapam a independência do sistema judiciário, restringem a liberdade da imprensa e enquadram toda oposição como traição. Líderes com mão de ferro ensaiam novos tipos de democracias que são francas ditaduras. Se quiserem me censurar pelo que escrevi, botem a boca primeiro no Harari — que pende para o socialismo —, esse extraordinário historiador atual, porque foi ele a fonte de algumas ideias que coloquei aqui. Nem todas, porque divergimos em alguns pontos de vista.
Não se esqueça de que a vida é breve e você não vai sobreviver por um terço das ideias que defende e das maldades (ou talvez bondades) que pretende. Então, acalme-se, domine possíveis iras, busque a serenidade para coisas que não pode mudar e procure um modo mais light de encarar a vida.
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP