Em meus dois últimos artigos, tenho falado sobre o comunismo e mostrado algumas de suas centenas de atrocidades. Ideologia materialista, ditatorial, escravagista, sempre disposta a eliminar sumariamente quem atravesse seus ideais, o comunismo é uma doutrina disposta a qualquer ato que solidifique seus conceitos. Pois bem, existe outra ideologia, sobre a qual devemos alertar os mais ingênuos, que age da mesma maneira que o comunismo. Estamos nos referindo ao nazismo, doutrina exaltada ao extremo por outro lunático. Comunismo e nazismo têm muitos pontos comuns. Não entraremos aqui em filigranas filosóficas ou políticas sobre esses dois conjuntos de ideias, mitos, crenças, pois não é por aí que pretendemos chegar. Estamos interessados em mostrar como ambas doutrinas usaram meios parecidos e impiedosos para chegar aos seus objetivos.
Teríamos centenas de ângulos que nos permitiriam demonstrar, por exemplo, atitudes quase idênticas de Stalin e Hitler, que nos permitem analisar a forma como conduziram seu povo. Comunista ou nazista, Stalin ou Hitler deixaram atrás de si montanhas de cadáveres, marcas de brutalidade e insensatez.
Nos meus artigos anteriores lembrei a figura de Soljenitsin, do Arquipélago Gulag, famoso local aonde foram mandados e assassinados centenas de pessoas. Lembrei outra figura emblemática: Lenin, algoz sempre ligado a decretos e ordens brutais. Mencionei outros campos de concentração que não mediram medidas de experiências aterradoras com seres humanos. Pois, como nosso espaço é limitado e tudo que escrevo não passa de pinceladas rápidas sobre a verdade, vamos ficar apenas num aspecto do nazismo — os campos de concentração alemães.
Mesmo fixando-nos num só aspecto, não temos condição de passar por cima desse assunto, a não ser á vol d´oiseau, rapidamente, sem entrar em detalhes. Dentre os inúmeros campos de concentração alemão, talvez o mais falado e visitado turisticamente é o de Auschwitz. Este nós tivemos ocasião de visitar e até entrar na grande sala de gaseificação, onde os prisioneiros eram enviados, cientes de que iriam tomar um banho. Só percebiam depois que os "chuveiros" em vez de exalar água, infestavam o ambiente de gás letal. Gostaria de colocar o leitor a par de um livro Ravensbrück, que contém nada menos que 922 páginas. É isso mesmo 922 páginas sobre o único campo de concentração nazista só para mulheres. Escrito pela jornalista Sarah Helm, o título do livro deriva de uma pequena aldeia a cerca de 80 quilômetros de Berlim. As mulheres que chegavam à noite as vezes pensavam estar perto da costa ao sentir o sal no vento; também sentiam a areia sob os pés. Ao amanhecer entendiam que o campo ficava à beira de um lago e estava cercado por uma floresta. Himmler gostava que seus campos se situassem em áreas de beleza natural, preferentemente ocultos. Hoje o campo permanece escondido; em grande parte, os crimes hediondos que lá foram cometidos e a coragem das vítimas são desconhecidos.
Os nazistas também cometeram atrocidades contra as mulheres em diversos outros lugares: mais da metade dos judeus mortos campos de extermínio eram mulheres, e no fim da guerra havia mulheres em diversos outros campos. No fim da guerra 130 mil mulheres de mais de 20 países foram prisioneiras lá; entre os nomes proeminentes estavam a sobrinha do general De Gaulle, Geneviève, e Gemma La Guardia Gluck, irmã do então prefeito de Nova York. Ravensbrück era um local para os nazistas exterminarem "seres inferiores"— marginais, ciganas, inimigos políticos, resistentes estrangeiras, doentes, deficientes e as "loucas". Por mais de seis anos, as prisioneiras foram submetidas a espancamentos, torturas, trabalho escravo, fome, experimentos médicos e execuções aleatórias. Nos meses finais da guerra, Ravensbrück tornou-se um campo de extermínio. Em 1946, entre 30 e 50 mil pessoas tinham sido assassinadas. Durante décadas, a história de Ravensbrück ficou escondida por trás da cortina de ferro e até hoje é pouco conhecida. Usando testemunhos de sobreviventes que nunca haviam falado, Sarah Helm foi o coração do campo, demonstrando de forma minuciosa o quão fácil e rapidamente o terror evoluiu. Afinal 922 páginas de um livro têm muito o que contar...