Mario Prata escreveu um livro há décadas onde conta algumas passagens com gente conhecida, uma espécie de retrato da família brasileira com todos seus pecados e virtudes. Apesar do livro ter sido escrito numa época bastante distante, como as pessoas focadas são conhecidas, e muitas ainda estão entre nós, achei interessante repassá-las ao leitor e pô-lo em contacto com Mario Prata, um divertidíssimo contador de histórias. Fui pegando aleatoriamente algumas personalidades, sem me preocupar com sua maior ou menor projeção. Ah! O nome do livro: Minhas Mulheres e Meus Homens, Rio, Ed. Objetiva, 1999, 251 p.
O pai de Mario Prata foi delegado regional da Saúde da Noroeste de São Paulo. De Bauru até a barranca do Paraná. Ficava três dias em Bauru. Sempre foi muito ligado aos funcionários e um deles que servia o café era o Dondinho que pedia conselhos a ele. Disse que o Waldemar de Brito queria levar o filho dele para treinar em São Paulo. O pai de Mario Prata não titubeou, quis tirar a ideia da cabeça do pai do moleque: — Futebol não dá camisa pra ninguém!
O Dondinha não ouviu os conselhos. Quatro anos depois, o pai de Mario Prata foi assistir Santos 7, Noroeste 1. O filho do Dondinho, campeão do mundo foi se encontrar com eles na casa de Dondinho, quelhes serviu café com maestria. O filho do Dondinho estava usando uma camisa belíssima. —É sueca, doutor Prata, disse Pelé. E deu a usada no jogo para o irmão de Mario Prata que perdeu a fala e fez coco nas calças.
Uma outra historinha diz respeito ao pai de Mario que fez uma besteira qualquer. Um dos irmãos falou: —Pai, você é uma anta! O pai, olhando para aquele pirralho: —Ah! É? E filho de anta o que é? O menino pensou dois segundos e disse:— Antonio!
Outra passagem diz respeito a Jabor, falecido a pouco tempo. Há três meses não se encontravam. Jabor saía do banho estava inteiro perfumado e disse todo novaiorquino: —Pratinha, o homem depois dos 50, precisa arrumar logo uma mulher pra limpar a baba dele na velhice.
São muitas as narrativas de Mario Prata nessa publicação. Fiquei revirando o livro para escolher outras historinhas mais ou menos curtas e publicáveis. Tive um trabalhão danado porque quando não era comprida demais, a censura me aconselhava a não a passar do livro para este artiguete. Eh! Mario Prata danado... quem sabe agora, depois de algumas décadas, ele tenha feito uma lavagem cerebral e esteja com a cuca mais limpa e as próximas historietas— se forem escritas — sejam mais adequadas a sair num jornalzinho de família.
Acho que agora vai esta outra historinha mesmo, já que não encontro outra mais sugestiva e adequada. Diz respeito a Pink Wainer, artista plástica. Quando ela chegou do exílio do pai, Samuel, veio morar com ele. Não tinha nem 18 anos, mas um corpinho de 23. Ficaram amigos e um dia ela lhe disse ao Mario: —Tomei hoje uma resolução. Vou ter cinco filhos com cinco homens diferentes. E um, vai ser com você. O terceiro. Mario confessa que já queria a posse naquele momento. Mas até hoje ela vem adiando esse filho. E o pior, ou melhor, é que continua com corpinho de 23. Confessa ainda que, sempre que se encontra com ela pensa nisso.
Vamos aos finalmente. Foi numa mesa de bar, onde estava também Gabriel Garcia Márques que um amigo contou. Estava morando em Madri, tentando fazer filmes, duro, muito duro. Ele viu um anúncio no jornal de uma mulher procurando rapazes para fazer segurança. Ele achou que era se rebaixar demais ser segurança de uma espanhola. Ainda por cima chamada Lavínia. Esqueceu aquilo. Meses depois encontrou-se com outro amigo, e contou-lhe que agora era segurança de Ava Lavínia Gardner. Ou para quem conhece, Ava Gardner, aquela mesmo.
Esse livro de Mario Prata, embora já superadono tempo, é, como dissemos, uma fotografia da famíia brasileira, com suas malícias, tolices e astúcias. E demonstra bem a facilidade do autor em fazer uma história, a maior parte das vezes picante, de um pedacinho de conversa e até de um livro.
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP