Você, leitor amigo, já parou para pensar nas suas perdas? Não. Não vou falar naquelas perdas irrecuperáveis do destino, na morte que leva nossas pessoas amadas. Tenho escrito muito sobre isso e hoje vou para um campo mais ameno, mais leve onde a privação de algo sejamais suportável. Costumo dizer sempre aos mais íntimos que, a cada dia, sofremos uma perda. E é verdade. Falemos primeiro sobre fatos do dia a dia, relacionados com a rotina diária e que só dizem respeito a nós. Um dia é uma amiga que muda de cidade e vai embora de nossa privacidade. Outro dia é uma loja comercial, que nos atendia com presteza, que se fecha ou muda de lugar, dificultando-nos a vida. Muitas vezes, surge-nos um mal qualquer, que nos impede de enxergar bem, de caminhar direito ou de ouvir, roubando-nos certas comodidades eimpedindo-nos de realizar outras. Aí não podemos mais usar o carro, caminhar mesmo a pé, ou agir sozinha precisando sempre de uma companhia, que nos sirva de muleta.
São coisinhas miúdas ou graúdas, que vão limitando nossa existência, diminuindo cada vez mais nosso espaço e deixando-nos de mãos atadas. São inúmeras pequenas ou grandes coisas que nem é possível enumerá-las todas aqui. Quantas vezes marcamos uma viagem significativa e acontece alguma coisa que quebra nosso barato, como costumamos dizer. Uma festa esperada ansiosamente e, de repente, uma pedra no caminho, como dizia o poeta. E assim vai, meu amigo, minha amiga leitora.
Há também a lei, que parece estar sempre contra nós. Felizmente, os nobres e impolutos legisladores têm que respeitar direitos adquiridos. Não fosse isso já estaríamos desnudos, até sem bolso para pôr as mãos. Há sempre classes privilegiadas, que gozam de mil e uma benesses, e continuam, cada vez, sendoaquinhoadas com mais e mais benefícios. Você acha, por exemplo, que um membro dotribunal precisa gozar de tantas regalias como, por exemplo, no que diz respeito à alimentação, transporte etc.? Chega a ser uma afronta oque vem ocorrendo. Uma grande parte de brasileiros sem emprego, passando fome, vivendo de campanhas para sobreviver e tendo de suportar paralelamente uma categoria de pessoas comendo lagosta e caviar, bebendo champagne francês, viajando de jatinho ou de classeacolchoada, que você jamais chegará a conhecer?
Hoje mesmo, dia 08/6/22, ocorrerá a possibilidade de o rol de procedimentos e eventos em saúde da Agência Nacional de Saúde (ANS) mudar para taxativo. Você tem Plano de Saúde? Tem? Então fique atento. Vem outra bordoada por aí. Atualmente, a lista de procedimentos da ANS é considerada exemplificativa, quer dizer, indica itens a serem cobertos pelos planos de saúde. Caso o rol se torne taxativo, serão cobertos apenas os pontos pré-estabelecidospela agência. E não vai ser possível conseguir a cobertura nem com o auxílio da Justiça. Você já pensou o inferno que isso vai causar? Quanta criança, quanto adulto vai ficar sem cobertura de muitos males? Essa medida absurda, contra a população, está causando grande preocupação principalmente contra crianças com deficiências (e adultos também) uma vez que impactam diretamente os serviços ofertados aos filhos.
Já não basta o que considero um ataque violento do plano de saúdeàs nossas economias, plano esse que está sujeito a aumentos anuais, que deixam o cliente de cabelo em pé, agora vem mais essa novidade de cercear o acesso a determinados tratamentos já existentes ou a outros que porventura poderão surgir de acordo com a modernização da ciência? Rol taxativo mata. Dinheiro nenhum está acima de vidas humanas.
Esses políticos não podem pensar no cidadão? Por que a maioria das medidas são sempre contra a população? A quem estão protegendo, tomando uma atitude antipática, impopular, vergonhosa como essa? Os pagadores de plano vão perder e quem vai lucrar? Só as Unimed, Amil, etc.? Me engana que eu gosto. Se o talrol taxativo passar, centenas vão engordar suas contas bancárias. Está passando da hora de fazer-se um movimento contra qualquer ato unilateral e injusto como este. Acorda, cidadão! Até quando vai permitir ser espoliado? Não vai reagir nunca? Quando acordar, terão posto umacanga no seu pescoço e aí... nem pense em escapar de mais um esbulho! Até quando, hein?
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP