Não posso deixar passar em branco um artigo publicado no Estadão, de 21 de junho p.p., denominado Os meninos de Lula. Vou retransmiti-lo, procurando resumi-lo e ao mesmo tempo fazendo algumas considerações.
O leitor deve lembrar-se que o empresário Abílio Diniz foi sequestrado em dezembro de 1989 por um grupo de delinquentes do grupo de Esquerda Revolucionária-Político e das Forças Populares de Libertação de El Salvador. Dez pessoas foram presas por envolvimento: cinco chilenos, dois canadenses, dois argentinos e um brasileiro. Diniz passou quase uma semana no cativeiro e descreveu, depois de solto, seu medo de morrer, segundo a definição carinhosa de Lula, nas mãos daqueles "meninos". Eles anunciaram que se não fossem soltos fariam uma greve seca, que é ficar sem comer e sem beber e aí é morte certa.
Nessa época, o parvenu presidente era o sociólogo FHC — humildade pouco convicta— incensado por grande parte da população que, para demonstrar seu bom gosto e refinamento, fazia-se acompanhar pelo ilibado e virtuoso amiguinho ministro da Justiça Renan Calheiros. Lula, que não tinha nada a ver com o caso, além de pretender reescrever a história do petrolão, e fazer os brasileiros de trouxas, foi atrás do ministro da Justiça. Chegou lá, expôs seu plano magnífico de soltar os "meninos", ao que RenanCalheiros achou melhor ele falar com FHC. E você acha que ele não iria? Intrometeu-se nos fatos e lascou: "Fernando, você tem a chance de passar para a historia como um democrata ou como um presidente que permitiu que dez jovens que cometeram um erro morressem na cadeia e isso não vai apagar nunca". Isto ele contoutriunfante na semana passada em Maceió, no que se prestava a ser um discurso elogioso ao senador Renan Calheiros, ao seu lado no palanque, que àquela época fora o ministro da Justiça.
Continuando a mexer os pauzinhos, foi ao xilindró conversar com os "meninos", que cometeram esse crime violento — extorsão mediante sequestro —, que em 1990 passou a ser qualificado como hediondo e não simplesmente um "erro", como disse a FHC. Para mostrar seu destemor, falou: "Eu fui na(sic) cadeia e falei com os meninos: "Vocês vão ter que dar a palavra para mim e garantir que vão acabar com a greve de fome agora, e vocês vão ser soltos. Eles respeitaram a proposta, pararam a greve e foram soltos. Não sei onde estão agora"".
É muito estranha essa preocupação de Lula com esses "meninos" esquerdistas que pretendiam usar o dinheiro do resgate para sustentar a guerrilha de El Salvador. Esse Lula tem uma visão oposta da greve de fome como instrumento de manifestação política quando ela é empregada no cárcere por opositores do regime que ele apoia. Em 2010, ele disse a Associated Press, quando um grupo de opositores a Fidel Castro em Cuba decidiu iniciaruma greve de fome em protesto contra prisões arbitrárias na ilha caribenha : "Nós temos de respeitar a determinação da justiça e do governo cubano de deter pessoas em razão da legislação de Cuba, como quero que respeitem o Brasil". Não é para rir? Para aquele Lula, "a greve de fome não pode ser usada como pretexto de direitos humanos para libertar as pessoas. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrassem em greve de fome e pedissem a liberdade."
Assim é Lula,diz o jornalista do Estadão, para seus "meninos", criminosos condenados por sequestro, carinho e compreensão; para os que enfrentam ditaduras sanguinárias como a de Cuba, colocando o própria vida em risco, frieza e cinismo. Eis o líder que pretende resgatar o Brasil dopântano moral. Pois eu já vou mais além. Você sabe o que é amoralismo? É uma negação de toda ética universal. É isso que Lula é: um amoral. Esse homem não tem moral. Pode haver coisa mais perigosa que isso?
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP