Quando falamos em acidentes com animais peçonhentos nós pensamos em prevenção.
Os escorpiões existem há mais de 450 milhões de anos, por isso são bichos resistentes e bem adaptados à natureza. Eles viram o surgimento dos dinossauros bem como sua extinção, presenciaram o aparecimento das aves e todos os mamíferos, inclusive ohomem. Esses animais peçonhentos (que produzem veneno e o injetam pelo ferrão), assim como todos os seres vivos, possuem importante função no equilíbrio ecológico, pois alimentam-se de pequenos insetos – barata é a comida favorita – e outros invertebrados. E também são presas, fazendo parte da cadeia alimentar.
Vivem durante um tempo longo, sendo que o escorpião amarelo tem um ciclo de vida de quatro a cinco anos na natureza. Sua reprodução pode ser feita através de estímulos hormonais diretamente nos óvulos, sem a presença do macho. Cada ninhada gera em torno de 20 filhotes, os quais ficarão adultos em 10 meses, aumentando, assim,sua população.
Os animais peçonhentos estão cada vez mais presentes no meio urbano,principalmente por causa do crescimento desordenado das cidades e do péssimo costume de jogar lixo e entulhos na rua. Por isso, a participação da sociedade é de vital importância para evitar acidentes e mortes por envenenamento.
As estações quentes exigem maiores cuidados com os acidentes escorpiônicos, pois o calor e umidade são ideais para sua proliferação. Além disso, alimentam-se principalmente de baratas e, portanto,encontram-se em locais próximos a áreas com acúmulo de lixo. A adoção de hábitos simples é fundamental para prevenir acidentes.
No ambiente urbano, para evitar a entrada dos escorpiões nas casas e apartamentos, a recomendação é de usar telas em ralos de chão, pias e tanques, além de vedar as frestas e de colocar soleiras nas portas. Também devemos afastar as camas e berços das paredes e ainda vistoriar roupas e calçados antes de vestí-los.
Nas áreas externas, as principais recomendações são de manter jardins e quintais livres de entulhos e folhas secas. Colocar o lixo doméstico em sacos plásticos bem fechados para evitar entrada de baratas.Não deixem louça suja acumulada na pia e coloquem sabões e sabonetes em recipientes fechados (pois as baratas comem produtos de limpeza e pasta de dentes). Deixar a grama sempre curta e não colocar a mão em buracos, embaixo de pedras ou em troncos apodrecidos. Sempre que for necessário fazer atividades em locais com risco de picadas, utilizar luvas e botas de raspas de couro.
Nas áreas rurais, além de todas as medidas citadas acima, é essencial preservar os inimigos naturais dos escorpiões como lagartos, sapos e aves de hábitos noturnos, como a coruja, que são seus principais predadores.
O Ministério da Saúde não recomenda a utilização de produtos químicos (pesticidas) para o controle de escorpiões pois, além de não possuírem eficácia comprovada (até o momento) para o controle do animal na cidade, podem fazer com que eles deixem seus esconderijos, aumentando o risco de acidentes.
Lembrar que o grupo de pessoas mais vulneráveis ao escorpionismo são os trabalhadores da construção civil, de madeireiras, de transportadoras e distribuição de hortifrutigranjeiros(pois manipulam objetos e alimentos onde os escorpiões podem se esconder). Felizmente a grande maioria dos acidentes é leve e os sintomas são locais, com início rápido e duração limitada, sendo realizado apenas tratamento sintomático. O paciente apresenta dor imediata, vermelhidão e inchaço, junto com sudorese e arrepio local.
Apesar disso não podemos nos esquecer da população com maior risco de envenenamento generalizado como crianças abaixo de sete anos e idosos acima de 65 anos de idade, cujos sintomas são vômitos,diarréia, dores abdominais intensas, sensação de aperto no peito, falta de ar, batedeira convulsões e até perda da consciência. Esses casos necessitam da soroterapia o mais rápido possível.
É útil ter o rol dos locais de referência para o tratamento com acidentes envolvendo animais peçonhentos. Na nossa região, as unidades de referência são a UPA Bela Vista (crianças) e Pronto-socorro central (adultos), ambos em Bauru, porém consegue-sefacilmente essa lista através do endereço https://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/unidades-de-referencia/peconhentos_unidades.pdf
Dr Eli Roberto Garcia Filho
CRM-SP 104.828
Médico alergologista pediatra
RQE: 66080/660801