AMARGA DESILUSÃO
Não queria começar esta crônica de princípio de ano com um título tão melancólico. Infelizmente, as pressões e as tristezas pelas quais temos passado não têm servido para ensinar ao povo que errar duas, três vezes é burrice consumada. Inúmeros são os ideólogos que caíram no conto do vigário, mas depois repensaram, voltaram atrás e fizeram melhor uso do pensamento.
Estou com um livro nada novo diante de mim, mas que tem me servido de cartilha sempre que uma dúvida ou um nó apertado precisa ser desvencilhado. O livro é de autoria de Milovan Djilas e denomina-se A NOVA CLASSE. O tema central é o sistema comunista que põe nas mãos de uma só classe um grande número de poderes. A burocracia comunista, contrariamente com o que acontece com a burocracia ocidental, em regime comunista não sofre controle. É a classe proprietária por excelência. E os dirigentes comunistas tratam a propriedade nacional como se fosse sua, mas a esbanjam como se fossem de outros. Não vou resumir o livro, pois seria impossível, num espaço tão diminuto. Mas, o que tenho obrigação de apontar é o pessimismo de Djilas.
É oportuno dizer que o livro foi traduzido só em 1958, mas mudou pouca coisa em relação aos dias atuais. Prestem atenção neste trecho: "o sistema econômico comunista tem revelado profundas brechas e fraquezas, desde o momento em que obteve a vitória completa. Embora ainda não tenha atingido o ápice do poder, já sofre dificuldades. Seu futuro é cada vez menos seguro O sistema econômico comunista terá de lutar furiosamente, interna e externamente, pela sua sobrevivência." Isso é o que eu chamaria de um excelente crítico e um analista de profundidade. Como profeta, enxergou o que muitos não enxergaram, mas deram a ele a mesma importância de que Cassandra gozou ao prever a catástrofe de Troia.
Nesta fase que estamos vivendo o medo está se espalhando. Muito do que o livro citado contém, vem ocorrendo às claras. Pelas prisões, como a do cacique xavante Tserere, pelas muitas que ainda o ministro Alexandre de Moraes diz estar estar por fazer, por essa nuvem de pavor que vem sendo jogada pelos céus de nosso país, acredito o que Dilas assegurou: "os monstruosos métodos de opressão e de destruição do espírito humano" estão roçando na nossa fraca legislação que precisa urgentemente de uma pletora de bons juristas para dar um soro de verdade e democracia na jurisdição em vigor. Evitar que a arrogância suba cada vez mais á cabeça. Estão percebendo como a perseguição nem está mais ficando vermelha? Desde que esteja no campo oposto, o artista, ou o cientista têm sua obra negada ou ignorada? Ninguém percebe as multas, as prisões, a falta de comando?
Termino, com Djilas: "O comunismo é, de certa forma, uma reminiscência do exclusivismo das seitas religiosas da Idade Média." Será que ainda está em tempo de conter essa turba?
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP
