A pandemia nos mostrou a sua íntima relação com os acidentes de trabalho. A OPAS (Organização Panamericana para a Saúde) estima que em cada sete casos de doenças ocupacionais, um está relacionado à COVID 19, principalmente nos trabalhadores da área da saúde.
Mas, quando se fala em saúde dos empregados, não estamos falando apenas de doenças "físicas". Além de mostrar a importância da prevenção dos acidentes de trabalho e do uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs), o mês de abril, cuja cor é verde, também nos alerta sobre a saúde mental dos nossos colaboradores.
Nossos médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde encontram-se esgotados psicologicamente. Todos os dias eles precisam lidar com casos de complexidade cada vez maior, sendo que o desfecho nem sempre é favorável, apesar de todos os esforços terem sido realizados. Aumentam-se e acumulam-se as pressões psicológicas ao ver os sofrimentos alheios. Essa é uma das causas da "síndrome do burnout" cuja consequência é o maior risco de acidentes de trabalho em si e nos seus colegas pois o trabalhador começa a ter irritabilidade, insônia, quadros depressivos e, em casos extremos, alucinações e transtornos mentais graves.
Os trabalhadores de categorias que interagem indiretamente com o público, como os operadores de telemarketing e os que trabalham em regime de "home office", também estão sujeitos a essa síndrome. As pressões por resultados e os prazos de entrega cada vez mais curtos também levam ao esgotamento espiritual. E como as pessoas que estão do outro lado da linha também estão cansadas psicologicamente, qualquer palavra dita de maneira imprópria, de qualquer lado do telefone, piora as condições de ambos.
Por isso é fundamental entender que, da mesma forma que precisamos cuidar de nossa saúde física com os hábitos saudáveis (como se alimentar e dormir bem e realizar atividades físicas), também precisamos cuidar da nossa saúde mental. E isso envolve lidar com os próprios pensamentos, sentimentos e emoções além de desenvolver o panorama interpessoal. A autocrítica pode auxiliar na identificação das mágoas, incômodos e desconsolos que o próprio empregado está sentindo. Também ajuda a estabelecer seus limites pessoais e o que pode lhe proporcionar bem estar e alegria. Pensar sobre essas questões vai favorecer o desenvolvimento de maiores habilidades sensitivas, auxiliando na tomada de decisões que serão fundamentais para a manter a saúde mental e emocional.
Muitas vezes torna-se necessário o apoio de psicólogos e terapeutas ocupacionais para auxiliar o indivíduo a encontrar o que está lhe afligindo. E, dessa forma, suas preocupações serão trabalhadas para que ele passe a ter um novo olhar sobre elas, sabendo como enfrentá-las e redescobrindo suas limitações. Muitas empresas, observando que a saúde mental de seus funcionários não estava adequada, pediram apoio a profissionais especializados em saúde mental, levando ao aumento da produtividade de seus colaboradores.
Então, além de cuidarmos do nosso bem estar físico, também precisamos cuidar do nosso espírito. O acompanhamento interdisciplinar é importantíssimo para que as doenças mentais não aumentem os riscos de acidentes. E esse profissional sempre é necessário, mesmo em tempos normais (fora da pandemia).
Obs: não existe "novo normal". Existe o "normal" e o "anormal". O que estamos vivenciando é "anormal". E lembrar que o "comum" nem sempre é "normal".
Dr Eli Roberto Garcia Filho
CRM-SP 104.828
Médico alergologista pediatra
RQE: 66080/660801