Ignorar ou reclamar?

Por Jornal Cidade de Agudos em 05/08/2023 às 06:13:13

Já é lugar-comum, frase feita, esse papo (já) antigo de "o mundo mudou", "a internet é terra de ninguém" e afins. Esqueçam; as redes sociais, portais, podcasts e tudo mais que nos chega pelas telinhas/telonas veio pra ficar, gostemos ou não. Há duas saídas: Conviver da melhor forma possível com essa revolução nada silenciosa, contando com o apoio da lei (e não do abuso de autoridade), da educação e de um mínimo de bom senso, ou… entregar a coisa toda a Deus e lavar as mãos, pilatusmente. A segunda opção é impraticável; tão aí as MC Pipokinhas da vida que comprovam essa certeza empírica.

A outra é factível, mas esbarra em dois problemas: A utilização distorcida das leis por autoridades que se julgam aristocratas (quando não semi-deuses) para engaiolar ou falir seus inimigos através de estratégias tão sujas que fariam antigos membros do KGB chorar de emoção e… a falta geral do necessário bom senso, tão escasso aqui na Banânia.

O brasileiro é, por natureza, um ser movido por paixões e soluções milagrosas e imediatas, que o levam a crer que meros desejos se transformam em sólidos direitos e a velha e boa razão é só a dele, principalmente diante de um teclado. Inferno são os outros, ironizava amargamente Sartre; o povo concorda, entusiasticamente, sem saber que é ironia – e nem ao menos o que é ironia.

Alguns exemplos chamam a atenção, paradoxalmente, passando despercebidos diante da sobrecarga de informação – ou desinformação – diária que atinge o internauta, soterrando-o; a coisa chega sem filtro e em grande quantidade… e viraliza num instante. Ou some, tão rápido como surgiu, atropelada por novas ondas digitais.

Um caso é espantoso, até pelo gritante silêncio gerado. Uma estudante gaúcha de 17 anos foi atacada, ridicularizada e humilhada nas redes por ter desistido de ir ao show de Taylor Swift para fazer vestibular. Impressionante. A estudante, que não teve seu nome revelado em reportagem do Correio do Povo, comprou ingresso para a apresentação da cantora americana, mas decidiu não ir ao tomar conhecimento que a data do show coincidiria com o vestibular de sua opção na UFRGS. Os comentários são (eram?) impressionantes, principalmente no Twitter. Atacaram-na, porque, afinal, "vestibular tem sempre e show da Taylor é só uma vez na vida". Taspariu. Essa é a profundidade do raciocínio do brazuca médio? Estamos lascados.

Outro caso envolve a linda e famosa Luana Piovani (ex?) atriz, de muito sucesso. Em recente entrevista ao podcast Desculpa Alguma Coisa, abriu o jogo sobre os seus antigos relacionamentos e disse que os homens sempre foram "instrumentos em sua mão". A atriz explicou que não está "nem aí" para eles e que só se preocupa com as críticas sofridas pelas mulheres. Afirmou que sempre fez o que quis com eles e que nunca se preocupou com isso. Belo, Belíssimo exemplo de respeito ao próximo, minha senhora. E ainda se orgulha disso? Fenomenal.

Fosse um homem famoso como ela o autor dessas singelas palavras, menosprezando as mulheres, seria processado e perseguido na rua pelas feministas, agredido e xingado, teria sua vida devassada, perderia o emprego, com o sério risco de ter sua casa invadida de madrugada por alguma ordem de busca e apreensão emitida pelo STF, essa nova maneira de vingança institucional pseudo-legalizada, digna dos Corleone. Mas a frase, arrogante e maldosa ao extremo, foi dita por uma mulher famosa, "empoderada"; aí o crime deixa de ser crime e passa a ser mérito heroico, destemido e admirado. "Ressignificação", sabe? Palmas para ela, que usa os homens e se orgulha disso. Ou "objetificação". O que os "inteligentinhos" denunciados pelo professor Luiz Felipe Pondé fazem com a Língua Portuguesa é de doer.

Num País onde milhares (milhões?) enxergam Taylor Swift como uma espécie de Mozart de saias (enquanto essa expressão "de saias" não virar crime hediondo, claro) e outro tanto acha muito normal, até bastante elogiável, uma ex-atriz famosa orgulhar-se de usar homens como escada na vida, não dá outra: Vamos continuar a ser a Banânia por muito tempo.

Fernando Montes Lopes

Advogado e Professor Universitário

[email protected]

Anuncie
anuncie aqui