Os estigmas da saúde mental feminina

Por Jornal Cidade de Agudos em 13/03/2025 às 17:37:56

Quando pensei em escrever essa coluna sobre a saúde mental de mulheres, imediatamente me veio a palavra "louca" à mente, palavra que tanto desvaloriza as mulheres mundo afora, pelo simples fato de que as mulheres expressam mais suas emoções do que os homens. Ao pesquisar essa palavra no Google, este apresentou diversos resultados para a palavra "louça", provavelmente porque a grafia é parecida, mas, infelizmente, as duas palavras expressam muito do que pretendo trazer para a reflexão no texto de hoje.

Estatisticamente, as mulheres têm maiores chances de desenvolver algum transtorno psiquiátrico ao longo da vida em relação aos homens. E isso não quer dizer que os homens são mais "fortes", mas sim, que lidam com as emoções de maneira diferente das mulheres, como através do uso da violência, e que não sofrem toda a opressão social que as mulheres tanto têm lutado para se libertarem. Por exemplo: os transtornos de imagem acometem muito mais as mulheres devido à pressão social para se enquadrar nos altos padrões de beleza impostos pela cultura. Cada vez mais cedo, as redes sociais têm deixado crianças e adolescentes ainda mais vulneráveis quanto a saúde mental devido a esses padrões inalcançáveis.

A idade reprodutiva também é um período em que o risco de desenvolver ansiedade e/ou depressão são maiores para as mulheres, não só pela montanha-russa hormonal, mas principalmente pelo acúmulo de trabalho doméstico e de cuidado com os filhos, sem uma rede de apoio suficiente. Ao conquistar o mercado de trabalho, a mulher acumulou ainda mais funções, as quais deve desempenhar primorosamente para compensar o simples fato de ser mulher. A casa deve estar sempre muito limpa, deve ter filhos e que sejam muito "bem-educados" e o trabalho impecável para estar "fazendo o mínimo". Muitas das mazelas mentais sofridas pelas mulheres são reflexos da maneira como nossa sociedade se organiza e reprime o espaço feminino.

Os sintomas emocionais, ainda muito estigmatizados na nossa cultura, comumente são tidos como sinônimo de fraqueza e falta de controle sobre si mesmo. Quando, na verdade, são reações a situações e contextos de vidas difíceis e traumáticos que todos nós estamos sujeitos a viver. É o mesmo que sobrecarregar o corpo com açúcares e carboidratos por um longo período e esperar que o corpo não desenvolva complicações de saúde como diabetes, hipoglicemia, obesidade etc. Mesmo quando diagnosticada com depressão ou ansiedade, dentre outros transtornos mentais, as mulheres não devem ser diminuídas e estigmatizadas por isso. Ninguém deve, aliás! Nossa mente adoece assim como nosso corpo físico, que acumula bagagens emocionais das quais não consegue metabolizar. É através dos sintomas de depressão, ansiedade, entre outros, que nossa mente sinaliza a necessidade de cuidado. Se necessário, procure um profissional.

Dra. Daniela Vitti R. da Silva
Psicóloga (CRP 06/93439)
Especialista em Psicanálise
Mestre e Doutora pela USP.
Atendimento e supervisão online e presencial em Bauru
Contato 14 99121 8206
Instagram @danielavitpsicologia
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