O mundo mudou e vai mudar muito mais ainda. A tecnologia acompanha, entre a curiosidade e o receio, os novos sistemas alimentados pela inteligência artificial (IA). Naturalmente você já viu ou leu essas letras agrupadas: ChatGPT. Combina "chat", referindo-se à sua funcionalidade de chatbot e GPT (Generative Pre-Trained Transformer ) Transformador Pré-Treinado Generativo – um tipo de modelo de linguagem grande (Large Language Model, LLM, na sigla em inglês). Trata-se de uma ferramenta capaz de gerar textos sobre diversos assuntos, resolver tarefas complexas, elaborar propostas de negócios e até escrever ficção. Aí o bicho pega. Nem todos os literatos estão de acordo com esse modernismo. Veja o que diz Cristóvão Tezza: "Um texto literário verdadeiramente forte não será nunca resultado de uma conjugação mecânico-linguística de algoritmos mas sim obra de uma pessoa, e é só por isso que pode ser forte e bom."
O Estadão fez uma pesquisa sobre a excelência do ChatGPT. Todos, embora impressionados com a eficiência da ferramenta, não a veem como auxiliar no trabalho, porque ela não é ainda capaz de suplantar a sensibilidade humana. Do jeito como alguns pensam, logo jornalistas, literatos, filósofos e afins, estarão com a carreira encerrada. Que mundo louco será esse em que a pesquisa será desnecessária pois tudo já estará encaixotado na IA? Seremos filhotes da máquina? Não
Será mais necessário pensar, pesquisar porque tudo está pronto no "cérebro" da máquina?
Trata-se de algo diferente do Google que, quando se procura um dado, ele solta toneladas de sites e páginas, até esbarrar na resposta exata que você está querendo. No ChatGPT, a ferramenta nos leva exatamente ao detalhe que você está buscando. Para Raphael Montes, autor de romances policiais no Brasil, "escrever literatura não tem nada a ver com enfileirar palavras. A força da narrativa nasce da sugestão, do não dito, das entrelinhas, das nuances dos personagens. Acho que a ferramenta não faz nada disso." Há, contudo, autores que caíram de amores pela ferramenta. Tobias Carvalho conta que acatou a sugestão da ferramenta e adaptou-a ao seu trabalho.
Perdoe minha ignorância, mas será que um dia o ChatGPT vai concorrer com a excelência de Clarice Lispector, de Guimarães Rosa? Será possível competir com a sensibilidade privilegiada de Drummond ou Cecilia Meireles? Isso para ficar só no nosso quintal. Será viável para a máquina sentir a saudade, a dor de uma perda irreparável como o coração de um ser humano? A máquina é fria, anódina, não tem alma. Meus sentimentos, todavia, são exclusivos, só meus e nunca estará ao alcance de máquina nenhuma.