SERÁ QUE DESCENDEMOS MESMO DOS MACACOS?

Por Jornal Cidade de Agudos em 19/06/2024 às 17:22:34

Quando era menina tinha a mania de doutrinar as pessoas que trabalhavam na minha casa. Pegava ora uma, ora outra serviçal e ficava despejando na cabeça delas tudo que lia e aprendia na escola ou o que eu mesma escarafunchava em almanaques, que naquela época eram bastante populares. Lembro-me de um dia ter lido que nós, seres humanos, éramos descendentes dos macacos. Aquilo para mim foi uma sensacional descoberta. Pronto! Achara uma pérola capaz de provocar sensação. Vai daí que peguei uma das moças que faziam a limpeza da casa e fui logo exibindo minha mais recente conquista. Fui, entretanto, logo rechaçada. Ela não quis ouvir o que eu mais declamava do que explicava. —"A senhora está doida? Eu não vim do macaco, não senhora! Aonde já se viu a senhora falar uma bobagem dessa? Pode parar e se não ficar quieta, vou me queixar para sua mãe!".

Pronto! Essa foi minha primeira decepção como professora. E, depois dessa, vieram outras e mais outras. O tempo foi passando e verifiquei que muita gente tinha medo de Charles Darwin, o pai dessa doutrina escandalosa que dava o homem como descendente dos primatas. Embora as escolas não estejam fazendo um bom trabalho no ensino da evolução, os fanáticos religiosos ainda insistem que ela não deveria ser ensinada. Alternativamente, exigem que também se ensine a teoria do Design Inteligente, segundo a qual todos os organismos foram criados de acordo como projeto de alguma inteligência superior (Deus).

Por que a teoria da evolução suscita tantas objeções, enquanto ninguém parece se incomodar com a teoria da relatividade ou com a mecânica quântica? Se mergulharmos na teoria da evolução, bem lá no fundo dela, teremos de admitir sim — hoje eu reconheço isso — que ela é incompatível com a ideia de alma, se por alma admitimos algo indivisível, imutável e potencialmente eterno. Não vou mergulhar agora nessas intermináveis questões que já deram tanto pano pra manga. E se um dia eu já admiti em meus artigos que não aceito totalmente as ideias do grande historiador Yuval Noah Harari, este é um ponto fundamental que me afasta dele e de algumas ironias a respeito de Deus e da Criação. Declaro-me, nesta oportunidade, uma interessada nos entendimentos de uma teoria evolucionista mitigada, que passarei a expor em seguida.

Algumas ideias baseadas no pensamento do Professor Felipe Aquino esclarecem aspectos mais cruciais desse assunto nada simples. À pergunta se o homem veio do macaco, diz aquele professor, a resposta é um sonoro não. E ele explica: o homem não veio do macaco nem poderia, pois não houve tempo para essa evolução. E caso tivesse havido esse tempo, o macaco já nem seria mais um macaco, mas outra criatura. O correto seria hoje dizer: homem e macaco compartilham de um ancestral comum, do qual ambos evoluíram num processo gradual, lento que levou milhões de anos.

O surgimento do ser humano, segundo o professor, levou muito tempo ao qual não se pode colocar data fixa, mas pode-se falar numa escala cronológica para certas características, como, por exemplo, caminhar sobre dois pés.

Aprecio também algumas ideias do doutor em astrofísica, Alaxandre Zabot, que, sobre o assunto, apresenta hipóteses interessantes para os católicos. Para este cientista, o homo sapiens não teria partido de um processo de evolução de outras espécies já extintas. Os humanos não descendem dos macacos, como muitos acreditam, mas de ancestrais que deram origem à raça humana e dos demais primatas, por exemplo.

Este tema é relevante demais para ser tratado num simples artigo como este. Provisoriamente, fiquemos com a posição do papa João Paulo II para quem a fé e a razão são como duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Para esse religioso — que estimula o diálogo entre a fé e a ciência —, é graças à investigação que compreendemos melhora grandeza do Universo e sua compatibilidade com a presença de Deus.

Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP
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