Tempo vai, tempo vem e é de certa forma embaraçoso ter estado preocupado com o problema humano durante toda a vida e constatar que se tem pouco mais a aconselhar além de dizer: Tente ser um pouco mais bondoso. Repare que todos os homens desejam a paz, mas poucos são aqueles que desejam as coisas que proporcionam essa paz. Os seres humanos não são tão inteligentes como pensam.
Tenho pensado bastante naquilo que foi um tormento para muitos filósofos quando se põem a questionar sobre a natureza humana. Nem anjos nem demônios. Que somos, então? Que é o homem? Quem é esse apregoado "homo sapiens"? O homem, esse ser pensante. O homem de séculos atrás, o homem de hoje. O homem europeu, o homem asiático, o homem de maneira geral. O homem brasileiro. Já pensou na hediondez que a sociedade brasileira tem tido a capacidade de perpetrar? Analisemos algumas. O que o Maníaco do Parque fez com aquelas jovens? Sim, aquele mesmo que será colocado outra vez no convívio social. E da Suzana Richtofen, quem me dá notícias? Você sabe de quem estou falando. É daquela mesma que mandou massacrar os pais. Casou-se? Constituiu um lar "respeitável"? E o Bruno? O Bruno Bonitão, jogador de futebol, galã cobiçado pela moçada que delira com qualquer fanfarrão que apareça no noticiário. O importante é estar na mídia. O Bruno que deu ou mandou dar sumiço numa pretendente. Onde anda ele? E o Nardone? Esse que associou o sobrenome da família a um infanticídio de morbidez sem tamanho. Perdoem os vícios de linguagem, mas não dá pra segurar o desejo de avultar todas essas monstruosidades.
Sei por que esses casos todos retornaram à memória. Como um fato puxa outro, a mídia agora está voltada para mais maldade com carimbo brasileiro. Foquemos o Caso Cupertino. Está lembrado? Claro que sim. Quem poderia esquecer daquele ato tresloucado do pai possessivo? Recebeu à bala o rapaz que bateu à porta da casa dele, a fim de pedir permissão para namorar a filha! De quebra, para não perder mais tempo, Cupertino assassinou também os pais do rapaz que o acompanhavam. Exterminou uma família.
Estou rememorando o fato porque ele tem um adendo especial. Esse Cupertino está disposto a dar um baile na justiça. Fazendo peripécias para o crime prescrever, já ficou longo tempo foragido e agora ri na cara da magistratura, que não tem a culpa de nossas leis serem tão frouxas e malfeitas. Pois é esse mesmo Cupertino que provocou a paralisação de um júri em que ele é o réu, alegando suspeição de seus advogados. Pura malandragem, jeitinho brasileiro de tumultuar o processo. E, obviamente, como todo mau caráter conhece mil e um truques para confundir o próximo, pelo menos até o momento Cupertino está se balançando na rede da vadiagem para aguardar os próximos capítulos dessa história rocambolesca.
Este é um mundo em que ninguém consegue nada de graça. A possibilidade de subir é barganhada na possibilidade de cair. Imaginamos sermos anjos, mais do que anjos sermos deuses, criadores, planejadores de nossos destinos. Quais as consequências desses falsos triunfos? A destruição dos valores humanos, a degradação ou a perversão. Quando pensamos que somos ou seremos deuses estamos em perigo de nos tornarmos demônios, capazes de arruinar nosso mundo e nos destruir. Ignorar a realidade tem seu preço, e quanto mais tempo persistirmos na ignorância, tanto mais elevado e terrível será o preço a ser pago.