AMANHÃ SERÁ OUTRO DIA

Por Jornal Cidade de Agudos em 12/11/2022 às 13:16:31

Durante meu almoço, enquanto digeria o alimento, digeria também os pensamentos. O que iria escrever aos possíveis leitores neste final de semana de novembro, que não lhes trouxesse mais atribulações e desânimo? Sim, porque após dez dias das eleições para escolha de o presidente da nação, não é possível que todos os cidadãos brasileiros estejam tranquilos e felizes, acreditando que tudo vai bem no melhor dos mundos. Afinal de contas, nem todos somos como o Candide, aquele personagem de Voltaire, que passou a significar todo ser humano com uma expectativa de otimismo invulgar, mesmo quando tudo caia ao seu entorno.

Então, para aqueles que, como esta articulista, estão inquietos, numa antecâmara de desassossego, de dúvida, de preocupação aconselho desanuviar as mentes, permitindo o correr dos dias, a fim de que as coisas se acomodem em seus lugares e tudo se resolva, da melhor maneira. Afinal de contas, amanhã será outro dia. Não sejamos nem exageradamente otimistas nem o extremo oposto. As coisas são como são e não temos o condão de modificar o que já está escrito. Agora, não mais. Antes, quando estávamos de posse do voto, um passaporte para desenharmos o futuro de uma nação, aí sim, poderíamos cantar poderes de que iríamos traçar os destinos deste país. Agora, repito, não mais. O que tínhamos de fazer, já foi feito. Se outros mais não rezaram pela nossa cartilha, pouca coisa nos resta fazer.

Na verdade, não é tão pouco o que deveremos fazer, a partir de agora. Cada brasileiro consciente precisará estar alerta para tudo que está por acontecer. O que a nação constatou nesses dez dias pós eleições, foi uma autêntica manifestação de civismo, saindo às ruas e, ordeiramente, manifestando insatisfação e preocupação com um possível blefe. E já que não foi possível um desfecho satisfatório, agora nos resta o posto de sentinelas do país. O povo aprendeu que não pode acomodar-se, esperar que medidas caiam do céu. É preciso agir, demonstrar repúdio, insatisfação.

Medidas autoritárias, cara feia, censura, métodos draconianos, até mesmo prisões, não devem intimidar-nos. Esse modo de agir é típico de ditaduras stalinistas, cubanas e outras parecidas. É posta em prática para assustar, amedrontar, assustar e não deverá espantar ou fazer-nos fugir do dever que é zelar pela democracia, lutar pela justiça, pela Liberdade!

É triste ver o Brasil nas mãos de um ex presidiário, comprovadamente ladrão, corrupto! Mais triste ainda é ver um tribunal superior babão, ajoelhado perante um cara sentenciado, num ambiente de tapinhas nas costas, sorrisos amarelados e vergonha disfarçada! Mas, talvez estivesse escrito que deveríamos passar por isso, a fim de que a humildade nos ensinasse que quantidade também é um valor e que um número maciço de idiotas vale mais que um punhado de brilhantes! A propósito, vem-me à mente um pensamento famoso do genial Nelson Rodrigues: Os idiotas vão tomar conta do mundo não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos...

É isso aí. Que o brasileiro de têmpera, não esmoreça, não tergiverse, não titubeie! Prossiga na defesa da democracia e seja eternamente uma sentinela de seu povo. Continue saindo às ruas, cada vez que se sentir ameaçado por essa meia dúzia de lunáticos que se investiu de donos do poder. O Brasil é nosso, meu, seu e de todo cidadão íntegro, decente, que não precisa escudar-se em cargos ou quaisquer outros penduricalhos para fazer-se ouvir. Não sinta vergonha de ser honesto, de ser leal, não permita que a charlatanice, a inconveniência cresça a ponto de macular a dignidade, a lisura e a honra. Conto com você, brasileiro de quatro costados, há muito na luta por um Brasil mais justo. Conto com você, brasileirinho ainda imberbe e que amanhã estará ocupando o posto que ora nos cabe. Força a todos. Ao concluir, vem-me à mente os versos de Juca Pirama, de Gonçalves Dias, com os quais me obrigo a concluir estas linhas, que serve de alerta a cada um e a todos, e que nunca tenhâmos de pronunciá-los: "Tu choraste em presença da morte?/Na presença de estranhos choraste?/Não descende o cobarde do forte:/Pois choraste, meu filho não és!"

Boa semana a todos.

Dra. Maria da Glória De Rosa

Pedagoga, Jornalista, Advogada

Profª. assistente doutora aposentada da UNESP

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