Se alguém estiver interessado em saber coisas sobre o comunismo, há centenas de livros sobre o assunto. Há, entretanto, um que não pode ser ignorado, Arquipélago Gulag, de Alexandre Soljenitsin. Esse livro destrói completamente a credibilidade moral do comunismo, primeiro no Ocidente, depois no próprio sistema soviético. O livro circulou clandestinamente: os russos tinham 24 horas para ler as raras cópias, antes que as entregassem para as mentes ansiosas que as esperavam.
Soljenitsin defendia que o sistema soviético jamais sobreviveria sem a tirania e o trabalho escravo. As sementes para seus piores excessos foram semeadas no período do século XX. Soljenitsin havia servido como soldado nas linhas de frente russas, despreparadas para a invasão nazista. Ele foi preso, surrado e lançado na prisão pelo próprio povo. Depois foi atingido pelo câncer. Sua vida foi tornada miserável tanto por Hitler como por Stalin, dois dos piores tiranos da história. Ele viveu em condições brutais. Testemunhou o sofrimento e a morte degradante e sem sentido dos amigos e conhecidos. Então, contraiu uma doença extremamente séria e tinha motivos de sobra para amaldiçoar Deus. Nem Jó sofreu tanto assim.
O grande escritor, porém, o profundo defensor da verdade não permitiu que sua mente se voltasse à destruição e à vingança. Durante suas provações ele encontrou pessoas que, de maneira nobre, sob circunstâncias horríveis se comportaram dignamente. Soljenitsin era um profundo observador do comportamento alheio. Ele analisava as outras pessoas e fazia perguntas a si mesmo: havia ele contribuído para a catástrofe de sua vida? Recordou-se do apoio incondicional que deu ao Partido Comunista quando era mais jovem. Quantas vezes havia agido contra a própria consciência engajando-se em ações que ele sabia serem erradas? Quantas vezes havia traído a si mesmo e mentido? Havia alguma forma de expiar seus pecados? Reconsiderou sua vida inteira. Ele tinha tempo de sobra para refletir, agora que estava prisioneiro. Ali no campo de trabalhos forçados conheceu pessoas admiráveis e honestas, apesar de tudo. Esquadrinhou sua vida, ressuscitando a si mesmo. Então, decidiu escrever aquela que foi sua obra inimitável, Arquipélago Gulag, uma história sobre o sistema soviético de prisão em campos de trabalho forçado.
É um livro poderoso, terrível com a força irresistível da verdade crua. Ao longo das páginas, sua revolta grita insuportavelmente. Banido da União Soviética foi contrabandeado em 1970 para o Ocidente. Como já dissemos, a escrita de Soljenitsin destruiu a credibilidade intelectual do comunismo, como ideologia ou sociedade.
A decisão de um homem em mudar sua vida, em vez de amaldiçoar o destino, balançou todo o sistema patológico da tirania comunista. Não muitos anos depois, o sistema ruiu. Não ruiu só em razão das atitudes de Soljenitsin, mas obviamente o livro colaborou para a decadência do sistema. Ele foi uma das pessoas a ajudar o milagre acontecer. Nomes como Vaclav Havel, escritor perseguido que mais tarde, de forma que parecia impossível, tornou-se o presidente da Tchecoslováquia, depois da República Tcheca e junto com ele vem-nos à mente também outros nome como o da figura de Mahatma Ghandhi.
Permitam-me algumas considerações sobre o fato. Sinceramente, tenho algum conhecimento para falar sobre nazismo e comunismo. Além de ler bastante, eu "visitei" Auschwitz, um dos campos de concentração alemão muito parecido com o que narra Soljenitsin. São lugares onde a mentira impera, onde a degradação do homem transforma-se numa imposição, onde o homem tem boca, mas não pode falar. O Holocausto foi o maior genocídio da história onde foram assassinados cerca de 6 milhões de judeus e outras minorias.
Há poucos dias assisti a um documentário sobre a invasão da Polônia pelos russos. Foi tão nauseante que se disser que me fez mal, a ponto de não me deixar dormir à noite, muitos ainda, enfeitiçados pelo regime comunista, vão dizer que é frescura ou histeria. Antes fosse.
Stalin e Hitler eram opositores na Segunda Grande Guerra, mas tinham um pacto sigiloso, por isso Stalin teve chilique quando invadiram Stalingrado. Stalin achava que Hitler jamais faria isso. Quem pode acreditar num pulha, num canalha? no caso, era um pulha acreditando em outro.
Voltarei ao assunto. É preciso falar muito sobre o arquipélago Gulag, assunto desconhecido pela maioria, principalmente por alguns que se dizem comunistas. A ignorância faz muita gente chafurdar na lama.