É inegável que a ciência encontra dificuldades para decifrar os mistérios da mente. A tendência é confundir a mente com o cérebro. A mente é uma rede material, o cérebro um fluxo de experiências subjetivas. O cérebro é feito de neurônios, sinapses e substâncias bioquímicas. A mente é um composto de emoções como amor, dor, raiva, prazer e outros. Como a dor, por exemplo, emerge do cérebro? Não sei. Você sabe? Até agora nenhum cientista respondeu a essa pergunta. Não temos nenhuma pista para o fato de sentirmos dor quando milhões de neurônios disparam sinais elétricos num determinado padrão e disparam num padrão diferente quando sinto amor. A mente é diferente do cérebro. Não podemos ver a mente em um microscópio, mas podemos ver o cérebro. O estudo da mente não segue modelos antropológicos. Quais métodos, então, são indicados para observar a mente? Esses métodos atualmente estão reunidos numa categoria mais ampla chamada de meditação.
Muitos associam a meditação à religião e ao misticismo, vamos, porém, adotar uma definição mais ampla e pouco tendenciosa. Meditação é qualquer método para observação direta da mente. Não negaremos que a meditação tem sido objeto de estudo de várias religiões, mas daí a dizer que é necessariamente religiosa é um erro ao qual muitos estão inclinados.
Centenas de técnicas de meditação foram empilhando-se ao longo dos séculos, algumas mais outras menos eficazes. Muita gente busca a meditação talvez para alcançar um estado de espírito mais satisfatório. Mas, o maior mistério da vida continua sendo a consciência. Sensações corriqueiras como a simples coceira no dedão do pé continuam a ser tão misteriosas como o sentimento de euforia por um noivado ou casamento.
O cientista tem usado a meditação de forma indireta, isto é, convidando grupos de meditação para que meditem e observem as atividades cerebrais resultantes. Isso, entretanto, não parece suficiente para estudar as práticas de pesquisa do cérebro. Como ferramenta de pesquisa, a meditação não tem contraindicação. Mas, é um instrumento ainda em estudo e um pouco infantil. Suponhamos que você esteja focado em observar sua respiração entrando e saindo de suas narinas; geralmente sua mente não conseguirá fazer isso mais do que alguns segundos. Tente fazê-lo e comprove. Depois de alguns segundos, você deixa escapar o foco e se perde em outros pensamentos. É preciso muito treinamento para aquietar a mente. Ninguém ainda inventou uma pílula para conseguir um foco instantâneo. Se isso tivesse "cura" muita gente não teria insônia provocada por desassossego e inquietação. Afinal, hoje sabemos como acalmar a mente assistindo a um bom filme, mas quando você está focado no filme não é capaz de observar a própria mente.
As dificuldades para compreender a mente sempre foram inquestionáveis. Contudo, isso não deverá levar à desistência de uma luta em favor de o conhecimento de nós mesmo. Os mais preocupados com o destino do planeta e, consequentemente, com o ser humano, querem entender nossa mente antes que os algoritmos façam isso. Se permitirmos que os algoritmos decidam por nós, estaremos abdicando de todo o trabalho realizado até agora para lançar luz sobre a mente e caminhando para o nosso aprisionamento. Será que não valeria a pena continuar buscando com denodo quem somos e o que viemos fazer aqui?