A vida ainda não alcançou a normalidade no Rio Grande do Sul (RS). Sobre o assunto colhemos algumas notas e depoimentos que passaremos ao conhecimento do leitor.
Parece-me interessante comentar que a L&PM Editores com sede em Porto Alegre teve muitos livros danificados pelas águas. Das 900 mil obras guardadas no depósito, cerca de 10 mil foram danificadas. Mas, as perdas foram menores do que era esperado pele editora. Móveis e equipamentos, porém, não escaparam à destruição. Em um post, a empresa publicou fotos do Instituto Caldeira, onde ficavam livros autografados e obras únicas. Diz o post: "Impossível não nos emocionarmos com as imagens da nossa sala no Instituto Caldeira. Nossos livros, criados com todo carinho, boiando em meio as águas da enchente. Ainda não podemos dimensionar ao certo todas as perdas".
Paralelamente ao estrago sofrido por essa editora, pudemos constatar também sensíveis perdas individuais, como as sofridas pela artista Ana Norogrando. Passando em revista algumas perdas em 2015, Ana se viu àquele ano obrigada a levar algumas de suas obras em um barco pelas ruas cheias da cidade. Com sua casa e ateliê próximos a serem engolidos pelas águas, Ana colocou seus trabalhos num pequeno barco para salvá-los e também para transportá-los até a 10ª. Bienal do Mercosul, uma exposição em que ela participava. Conseguiu levar as obras até uma estrada que não estava alagada, e foram postas num caminhão.
Nesta enchente de agora a artista acabava de abrir uma instalação em Portugal com um trabalho que alude justamente à situação extrema vivida por ela em 2015. Ana se divide desde 2019 entre Porto Alegre e Aveiro em Portugal. Ela conta que na catástrofe atual as águas invadiram sua casa. Atualmente, Ana está em Portugal, mas tem dois contêiners cheios de obras que estão parcialmente submersas pela água e também acha que perdeu dois mil livros que armazenava em sua casa. No momento, ela não tem ideia precisa de como está a casa dela em Porto Alegre, mas estima ter perdido umas 200 obras.
O incidente sofrido pela artista em 2015 foi considerado emblemático por Gaudêncio Fidelis, curador da exposição portuguesa. Naquele tempo, uma frota de caminhões ficou estacionada por três semanas em São Paulo, esperando a chuva passar para realizar o trecho de transporte das obras da Bienal do Mercosul até Porto Alegre. Agora, pela segunda vez, Norogrando sofre mais um golpe.
A atriz Patrícia Poeta levou seu programa de televisão, para acompanhar as consequências dessa crise climática, até RS. Afirmou que, por mais que as imagens de televisão revelem a ruína causada pelas enchentes, nada se compara a testemunhar as imagens pessoalmente. Depois de um período tentando falar com uma tia, conseguiu finalmente se comunicar com ela: "Dá um alívio nessa hora. Nossa, difícil até de descrever", disse ela.
Patrícia não conseguiu entrar em sua terra natal porque São Jerônimo estava debaixo d´água e as estradas estavam interrompidas. Impressionada com a experiência in loco, ela afirmou: "Confesso que não queria voltar para minha terra nessas condições, mas eu precisava estar lá nesse momento. É tudo muito triste. O Estado em sua maioria está devastado."
Todas essas imagens sobre a tragédia, e que estou passando ao leitor, foram colhidas nas páginas de o Estadão agora no mês de maio. Não há como fazer planos, enquanto as águas não baixarem definitivamente. Depois será uma nova vida. As pessoas deverão reaprender a viver em suas cidades. Além disso, o RS poderá estar sujeito a um novo evento climático extremo. O que aconteceu poderá acontecer de novo. Para que a calamidade não ocorra mais uma vez, a velha política precisará calçar as botas do totalmente novo, deixar picuinhas de lado e fazer um planejamento jamais visto. Só assim o RS poderá respirar aliviado. Para isso, nada de partidarismo político ou de boicotes odiosos. O lema terá de ser de união, fraternidade e amor no coração. É isso que os gaúchos esperam de seus irmãos. É pedir demais?