Gosto muito da frase de Comenius, um pedagogo antigo e, infelizmente, do qual pouco se fala atualmente: "Elevar à humanidade todos os homens sem exceção". No decorrer destas linhas que escrevo, você, leitor, entenderá o porquê dessa citação. Ao expor que a educação foi uma conquista tardia do homem, não estou falando nenhuma novidade. Milênios de luta, uma adaptação hesitante acompanha o desenvolvimento da inteligência, presa que esteve ao magma primitivo. Até chegarmos ao hoje, a prática antecedeu à teoria.
Mas, como era viver antigamente, para educar nossos filhos, se não havia escola nem professores? Como seria viver naqueles velhos tempos, como ensinar a nossas crianças os mais ínfimos preceitos do bom-viver? Uma tradição gestual e ritual estava enraizada na mentalidade comum. A obediência aos mais velhos, a resposta aos perigos, a estimulação das necessidades, esses foram os primeiros ensinamentos e os processos de inserção da criança e do adolescente nas atividades precárias de grupos sociais durante muito tempo indiferenciados.
Antes de domesticar o fogo, o homem teve de aprender a servir-se das mãos: momento decisivo de uma busca que leva da colheita à agricultura, da caça à criação, da pedra e do cacete ao instrumento que funciona para alguma coisa, da caverna à casa, da pele raspada ao tecido, dos recipientes de couro e de madeira aos de metal e ao vaso trabalhado, da troca à produção comercial, do clã à família e ao Estado, da linguagem tosca ao pensamento explícito. Em suma, do rebanho antropoide ao homo sapiens.
Você já pensou quantos anos, quantas décadas, quantos séculos para chegar até nós? E esse progresso incomensurável inclui ainda o Livro da Vida dos trabalhos apropriados a cada estação e o mapa estelar proposto aos povos migradores. Desemboca no artesanato quando após milhões de anos, talvez, de pacientes multiplicação das suas necessidades, a nossa espécie começa a aspirar a uma civilização organizada.
Essa é uma tentativa simples de condensar trilhões de anos em meia dúzia de palavras, para se concluir como foi longo o percurso para chegarmos até aqui onde nos encontramos. Não esqueçamos também que a lei natural distinguia já o adulto plenamente responsável e dotado de autoridade, do que chamamos hoje o "menor", isto é, falamos daquele indivíduo que, segundo nossas tradições pedagógicas, em função de sua idade, está submetido a obrigação escolar.
Na verdade, apesar da grandeza dos trabalhos das mais remotas e variadas gerações, ainda não caminhamos o suficiente. Obviamente, temos que dobrar os joelhos e agradecer às mais remotas gerações todo esse trabalho miraculoso, e tentativa de sobrevivência, de princípios que venceram as barreiras e chegaram até os nossos lares. Mas, a tarefa não termina hoje nem futuramente, quero dizer, não termina nunca. A educação estará sempre, como um Pantagruel que não se sacia jamais, estendendo seus braços incontroláveis para algo mais. É um trabalho insano. Como disse Jean-Paul Sartre, "O homem não é o somatório daquilo que tem, mas a totalidade daquilo que ainda não tem, do que poderia ter". Essa elevação à humanidade, de que falava Comenius, é caminhada eterna.