TENTANDO NÃO SER MONÓTONA...

Neste artigo vamos nos entregar a uma intenção quase impossível, isto é, a de não ser monótona, chata, cansativa. Sabemos, no entanto, que isso será difícil porque a vontade que nos move é escrever um pouco sobre a Filosofia e, só ao mencionar o tema, vamos afastando os poucos leitores preconceituosos que porventura estejam por aqui.

Mas, vamos lá, devagarinho. A Filosofia é uma ciência linda que, aos que conseguirem manter um pouco de intimidade com ela, tenho certeza, jamais torcerão o nariz ao ouvir qualquer palavra sobre o assunto.

Filosofar é uma atitude mental do homem. Você sabe que quando está pensando sobre a vida, ou sobre a morte, ou ainda sobre o seu desejo de ser justo, de não querer tungar o homem da loja ali da esquina, você está filosofando? De maneira tosca, mas está "filosofando". Ideias sobre o ser humano, sobre a religião, sobre a moral são preocupações da Filosofia.

Filosofia significa amor da sabedoria (de filos e sofia). Filosofar é uma atitude natural do homem: todos os homens pelo menos imperfeitamente são "filósofos", pois todos têm a capacidade de refletir. É esta uma exigência comum a você, ao seu pai, ao seu irmão, ao vizinho lá da esquina, a todos os seres humanos, a todos os seres racionais, porque todos desejam e amam saber. Uns mais, outros menos, mas todos desejam saber.

O que nós todos desejamos verdadeiramente saber? Nós queremos saber, conhecer tudo. Essa aspiração não tem limite. Não há, porém, saber total. Não há, com efeito, o que sacie. Claro que é assim porque nossa capacidade de pensar é infinita. Pensar é o que confere dignidade ao homem. A pedra não pensa, o cavalo não pensa.

Na verdade, a minha exigência mais urgente, e tenho certeza de que também a sua, é conhecer a nós mesmos e também o mundo em que vivemos, Nós, mais do que conhecer tudo, aspiramos conhecer aquelas verdades essenciais, isto é, os primeiros princípios de nossa existência e da realidade total. A ciência dos princípios primeiros se chama Metafísica ou filosofia primeira. O primeiro problema da metafísica é o mundo (cosmo) e sua Ordem.

O mundo é objeto de observações e de reflexão: cientista e filósofo observam, refletem a seu modo. No princípio, a Filosofia era a mãe de todas as ciências, hoje ciência e filosofia têm seu campo específico. A ciência investiga, compreende o mundo através da observação, da experimentação e análise de dados. Mas, as ciências particulares, neste escorço, escapam ao nosso objetivo.

O problema filosófico do mundo é o problema do princípio e dos princípios primeiros da realidade. Nele está implícito o valor e o significado do mundo. E dizendo-se do mundo, entende-se dizer antes de tudo do homem e da sua existência. O problema cosmológico é, portanto, também problema do homem, ou melhor, implicitamente, a pergunta sobre o mundo é sempre pergunta sobre o homem, que quer assenhorear-se da imensa casa em que habita, de quem a fez e do lugar e da condição dele que a habita. O interesse pela significação e pelo destino do mundo é, no fundo, interesse pela significação e pelo destino de nossa existência.

O corpo nos põe em relação com as coisas, é a nossa janela sobre a realidade. Portanto, o primeiro contacto que temos com o mundo é sensível. É contacto com as coisas assim como aparecem aos nossos sentidos, com o mundo, como se diz fenomênico. Sobre os fenômenos colhidos se exercitam a observação científica e a reflexão filosófica: com isso pomos o mundo como objeto de conhecimento. A realidade que nos circunda cessa de ser colhida na imediatez sensorial e se torna objeto de nossa mente. O mundo começa a ser não como uma realidade vivida, mas também como um problema a resolver. (V. M. F. Sciacca, História da Filosofia)

Doeu? Pois, você acaba de ter a primeira aula sobre Filosofia. E se achou tudo uma sensaboria ou uma chocarrice, saiba que, para Blaise Pascal, fazer troça da Filosofia é na verdade filosofar!