DERROTA SOBRE O VODU

Por Jornal Cidade de Agudos em 21/08/2024 às 16:46:02

Um homem de 60 anos passou quatro meses doente e foi piorando até ser levado ao médico pela esposa. Tinha perdido mais de 20 quilos e estava à beira da morte. O médico suspeitou de tuberculose ou câncer, mas os exames deram negativos. O exame físico não mostrou nada que pudesse estar causando a doença.

O paciente se recusava a comer, então foi colocada uma sonda alimentar, mas ele vomitava tudo que era colocado na sonda. Ele continuava piorando e insistindo que iria morrer. Mal conseguia falar. O fim parecia próximo sem que o médico tivesse ideia de qual era o problema do homem. Transtornada, a esposa pediu para falar com o médico em particular e, pedindo segredo, contou que o marido era vítima de vodu. O paciente, que vivia em uma comunidade onde o vodu era prática comum tivera uma discussão com um sacerdote da religião. Este havia convocado o paciente ao cemitério tarde da noite, onde lançara um feitiço acenando uma garrafa de líquido fedorento na cara do pobre homem. O sacerdote lhe dissera que ele iria morrer em breve e que ninguém poderia salvá-lo. Era isso. O homem acreditou que seus dias estavam contados e, derrotado, voltou para casa e dali em diante se recusou a comer. Foi daí que a esposa resolveu levá-lo para o hospital.

Após ouvir a história toda o médico concebeu um plano pouco ortodoxo para tratar o paciente. Reunindo a família dele, contou solenemente que, depois de passar uma conversa no sacerdote de vodu, pediu para que este lhe contasse como havia enfeitiçado seu paciente. O médico encenou todo um relato recheado de fantasias. O sacerdote não queria cooperar — disse o médico —, mas acabou cedendo. Este, então, contou que o sacerdote havia confessado ter esfregado ovos de lagarto na pele do homem; os ovos foram parar no estômago e lá chocaram. A maioria dos lagartos havia morrido, mas grande número sobrevivera e agora estavam comendo o corpo do paciente por dentro. O médico anunciou que tudo a fazer era remover o lagarto do corpo do paciente e ele ficaria curado.

A seguir, chamou a enfermeira que chegou solenemente trazendo uma bacia e uma seringa cheia de um remédio que o médico afirmara ser poderoso. A seringa, na explicação do médico, continha um fluido que provocava vômito; depois, com cuidado injetou cerimoniosamente o líquido no paciente amedrontado. Saiu da sala pomposamente sem dizer uma só palavra à família atordoada. Não demorou para o paciente começar a vomitar. Ele arquejou, gemeu e vomitou por algum tempo. Quando o médico achou que o vômito estava no fim, reentrou no quarto confiante. Aproximando-se da maleta, sem ninguém perceber, pegou um lagarto escondido na palma da mão, e, também sem que nenhuma pessoa notasse, largou o réptil dentro da bacia. Em tom mais dramático possível, gritou: "Olhe o que saiu! Você está curado! A maldição do vodu foi levantada!"

O paciente, atordoado, com os olhos esbugalhados saltou para longe da bacia. Em questão de minutos, caiu em sono profundo por mais de doze horas. Quando acordou estava faminto, comeu tanto e com avidez que o médico se surpreendeu. Dentro de uma semana o paciente recuperou o peso e o vigor. Deixou o hospital e viveu pelo menos mais dez anos.

Seria possível um homem se encolher num canto e morrer simplesmente por pensar que tinha sido enfeitiçado? Se for verdade, uma pessoa que havia decidido morrer pode também decidir tornar a viver? Uma pessoa pode mudar seu estado interno e entrar num corpo saudável? Pessoas podem morrer unicamente por causa do pensamento?

Somos todos inspirados por histórias de curas "milagrosas", mas somos todos nós capazes de experimentar tais milagres de cura. A renovação está incutida no tecido de nosso corpo. Degeneração e doença são a exceção, não a regra.

(Este relato real foi simplificado e retirado do livro "Você é o placebo", 5ª. ed., Citadel Ed., 2023, p.55 a 57)

Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP
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