Terminado o primeiro turno das eleições em todo o Brasil, decidimos fazer um balanço geral da ocorrência segundo nossa ótica, que pode não ser a melhor, mas provavelmente é a mais sincera. A partir do que aconteceu no nosso município, revisemos alguns episódios estaduais para, em seguida, analisar o panorama nacional.
O candidato eleito para dirigir Agudos, Fernando Lima Fernandes (Republicanos) e o pelotão de vereadores — esperamos que todos criteriosamente escolhidos —, terão uma gestão inteira para demonstrar seu amor à cidade e vontade de lutar por uma população carente e esperançosa. Promessas apenas não valem mais nada. Que venham as realizações. Mas, como o Brasil sempre foi — e parece que continuará sendo – uma terra onde a palavra vale pouco, aguardemos para posteriormente avaliar o andar da carruagem. Enquanto isso, os meios de comunicação e cada cidadão de per si deverão estar sempre antenados para cobrar, exigir e criticar.
Na cidade de São Paulo, os postos foram disputados passo a passo entre três candidatos: Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e Pablo Marçal. A pequena diferença entre Nunes e Boulos deveu-se, em grande parte, à interposição de Marçal, um outsider, que, como se diz na gíria futebolística, embolou o meio de campo. Não fosse isso, talvez até já tivéssemos um resultado diferente. Com intempestivas intervenções, aparecendo na última hora com um suposto falso documento incriminando Boulos, Marçal acabou, segundo a ótica de muitos, dando um tiro no próprio pé e, traído pela própria vaidade, ficou fora da disputa. Aguardemos o segundo turno, quando só então saberemos o nome do escolhido.
Ainda em São Paulo, as urnas mostraram um cenário desolador para o PSDB, que praticamente se derreteu e sofreu sua maior derrota histórica. Lucas Pavanato, um possível futuro líder, foi a figurinha singular, arrebanhando o maior número de votos para a câmara municipal, seguido pela emblemática Ana Carolina de Oliveira, mãe icônica que São Paulo aprendeu a admirar.
Os episódios, uns hilários, outros nem tanto, demonstraram algumas posições de destaque. Desencantada com os resultados avessos ao PT, Gleisi Hoffmann, em tom discursivo, não deu o braço a torcer, e ao final da apuração, alegou sem ênfase, que seu partido saiu do calvário, que está se reconstruindo e que Lula "participou como pôde" das eleições. Que o leitor mesmo julgue e pese essas afirmações meio cabalísticas. Paralelamente, a discutida Joice Hasselmann, levantando uma taça de champagne, baleada com menos de dois mil votos recebidos, "comemorou" sua despedida da política. Menos uma no palco das excentricidades. Entendem os mais afeitos à politicagem que a aludida desilusão de Joice provavelmente estaria ligada à sua pretérita trajetória pipocada de astúcia ou pequeninas "traições".
Panoramicamente, 11 capitais brasileiras já podem contar com governadores eleitos. O grande vencedor foi o PDS. Um exército de candidatos a vereador, distribuídos numa anômala quantidade de partidos, lutou encarniçadamente por um lugar ao sol, num sistema de votos discutível e anacrônico. O que se viu foi o avanço do centro e da direita bem como uma eleição escudada mais em pessoas, em figuras que em ideias.
Ao encerrar estas considerações, evocamos aqui uma passagem histórica que remonta aos triunfos romanos, ocasiões em que um escravo era designado para ficar ao lado do general vitorioso, repetindo ao ouvido dele frase "memento mori", quer dizer, lembre-se de que a vida é mortal. O lembrete tinha a intenção de manter o vitorioso com os pés no chão e consciente de sua mortalidade, apesar das honras e glórias.
Bom seria se tivéssemos ainda nestas eleições alguém para soprar o "memento mori" ao ouvido de cada vencedor, convidando-o a refletir sobre a finitude da vida e a viver de acordo com valores mais profundos. Infelizmente, nestes tempos modernos, qualquer alusão à História parece retrógrado e cafona.
Aguardemos as novidades do segundo turno.