É irritante o excesso de propaganda que os canais de televisão tentam enfiar-nos goela abaixo. A técnica é parar um noticiário interessante naquele momento em que mais aguardávamos um desfecho ou uma revelação. É nessa hora que inundam a tela com a divulgação de produtos para todos os fins. A cultura comercial está cheia de informações dúbias, quando não errôneas à custa do consumidor. Não faça perguntas. Não pense. Compre. Revelam menosprezo pela inteligência do cliente. Hoje existem até cientistas atuando como garotos propaganda, ensinando-nos que eles também mentem por dinheiro. Cirurgiões mediúnicos, depois de esconder na palma da mão pedaços de fígado ou coração de galinha, fingem tocar nas entranhas do paciente e tirar o tecido doente.
Não podemos aceitar passivamente essas propagandas idiotas. Temos de indagar a nós mesmos por que afirmam que tal produto é milagroso? Por que devo acreditar que aquela pomada tira rugas, rejuvenesce? São tantas informações falsas que é impossível não forçar a inteligência fazendo-se indagações tão deslavadas quanto as mentiras que tentam nos impingir. Afirmações imbecis também exigem reflexões.
Ás vezes, o que precisa ser aprendido muda rapidamente e é difícil saber o que ensinar e como ensiná-lo. Os professores se desesperam ao constatar como os padrões educacionais se deterioram. Num mundo em transição, professores e alunos precisam aprender a apender. Nas salas de aula perguntas provocadoras, complexas, saem aos borbotões. Estudantes muitas vezes se calam porque têm preocupação e acanhamento em fazer perguntas imbecis. Há casos em que até mesmo os adultos ficam desconcertados quando crianças fazem perguntas científicas. O que é um sonho? Por que a grama é verde? Quando é que o mundo faz aniversário? Por que as calçadas são duras? Muitos pais ou professores se irritam ou respondem com zombaria e as crianças percebem que esse tipo de pergunta incomoda os adultos. O que há de errado em admitir que não sabemos alguma coisa? Se não temos ideia da resposta, poderemos procurar numa enciclopédia. Nâo existem perguntas imbecis. Qualquer pergunta é válida e merece uma resposta.
É melhor perguntar do que não raciocinar, do que aceitar como verdadeiras respostas errôneas e capciosas dadas na televisão, nos jornais. A ignorância se alimenta da ignorância. É preciso divulgar a ciência. O homem comum, que vê televisão, lê jornal fica mais inclinado a aceitar aquilo que compreende e aprecia. Estamos falando de conceitos mais simples, mais acessíveis, em tentativas de comunicar o enfoque da ciência em jornais, revistas, televisão, em palestras para o homem do dia a dia e na divulgação de livros didáticos.
A popularidade dos livros de ciência quando são bem escritos, bem explicados, falam não só às mentes mas aos corações. Dos adultos norte-americanos, 63% não sabem que o último dinossauro morreu antes que o primeiro ser humano aparecesse; 75% não sabem que os antibióticos matam as bactérias mas não matam os vírus; 57% não sabem que os elétrons são menores que os átomos. Metade dos norte-americanos não sabe que a Terra gira ao redor do Sol e leva um ano para fazer a volta.
Nos primeiros oito anos escolares, as instituições de ensino têm que produzir alunos de raciocínio rápido, criativos, curiosos. O "homo sapiens" merece cidadãos com mentes bem abertas e com compreensão básica de como o mundo funciona. A ciência é uma ferramenta essencial para qualquer sociedade que tenha a esperança de sobreviver. E se os cientistas não realizarem essa tarefa, quem o fará?
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP