Há muitos séculos a história vem admitindo falsidades. Ninguém vai negar que atualmente não se pode acreditar no que se lê nos jornais, no que se vê na televisão e no que se recebe das redes sociais. Agora, então, com a IA (Inteligência Artificial) que pode nos ludibriar à vontade, os cuidados devem ser redobrados. Caras e vozes já não podem mais ser identificadas com a aquela certeza de outros tempos. Mas, a falsidade não é de agora.
Um mundo de coisas pode ser falsificado como incidentes militares, narrativas e nações inteiras. Contudo, como dissemos, isso não é exclusividade dos nossos dias. Há muito a humanidade vem sendo enganada. Se você culpa figurões atuais de introduzir-nos num mundo de pós verdade, lembre-se de que por séculos muitos têm se fechado numa bolha, não ousando questionar a veracidade de centenas de narrativas. Histórias inventadas de meninos cristãos assassinados por comunidades judaicas foram comuns na Europa da Idade Média e até mesmo mais tarde. Essas ficções custaram a vida de muitos judeus inocentes.
Cada nação cria sua própria mitologia. É o que ocorre com o comunismo, o fascismo e o liberalismo, com credos que vão se reforçando durante o passar dos anos. Goebbbels, o grande maestro da propaganda nazista, divulgou seu método de forma simples declarando que "uma mentira dita, uma vez continua uma mentira, mas uma mentira dita mil vezes torna-se uma verdade". Hitler, em seu livro Mein Kampf, defendeu que o princípio da técnica de propaganda fadada ao sucesso tem que se limitar a alguns pontos e repetidos sem parar. Aqui mesmo no Brasil temos o caso singular do atual presidente Lula, condenado por corrupção por diferentes processos, mas que continua dizendo-se inocente e acreditado por muitos.
A máquina de propaganda soviética sempre foi muito eficaz, conseguindo esconder atrocidades monstruosas tanto dentro do próprio país como no exterior. Ucranianos se queixam de que Putin enganou grande parte da mídia quanto a ações da Rússia na Crimeia. Mas, Putin perde para Stálin no quesito enganação. Na década de 30, a União Soviética era louvada como sociedade ideal, enquanto ucranianos e outros soviéticos morriam de fome aos milhões por causa da política orquestrada por esse famigerado genocida. Apesar de hoje estarmos sendo enganados aos milhões pelo Facebook e pelo X, pelo menos não é mais possível um regime militar como o comunismo continuar mentindo descaradamente e matando acintosamente sem que o mundo tome conhecimento.
Atualmente, empresas e não só ideologias se apoiam em fake news. Que imagens vêm â sua cabeça quando você pensa em Coca Cola? Provavelmente imagina jovens saudáveis se divertindo, praticando esportes. Tenho certeza de que não pensa em pessoas com sobrepeso deitadas numa cama hospitalar. Beber Coca Cola não irá deixá-lo mais jovem, mais atlético e sim mais propenso a diabetes e obesidade. Durante décadas, a Coca Cola investiu bilhões associando sua imagem à juventude, saúde, esportes --- e bilhões de pessoas subconscientemente acreditam nessa associação.
Teríamos muito ainda a comentar sobre esse assunto. Mas, como este texto tem um espaço delimitado, apenas guardemos este mantra: o ser humano prefere o poder à verdade. Y.N.Harari, melhor que nós, já afirmou que "se você sonha com uma sociedade na qual a verdade reina suprema e os mitos são ignorados, não pode esperar muito do Homo Sapiens. Melhor tentar a sorte com os chipanzés." O homem, mentiroso contumaz, vai continuar mentindo vida afora.
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP