Há cerca de um mês, os jornais noticiaram que a socialite Sílvia Popovic, bastante conhecida nas redes sociais, havia sofrido uma agressão física, quando voltava para casa. O ataque ocorreu à tardinha, quando ela vinha a pé para sua casa num horário em que as luzes da cidade nem haviam ainda sido acesas. Em plena calçada de uma rua do chique bairro de Higienópolis, ela foi assaltada por um meliante, atirada ao solo, e entre gestos imprevisíveis e bruscos, teve joias arrancadas dos dedos e braços.
Quem poderia supor que, numa rua até então considerada segura, essa senhora, uma viúva respeitável, iria sofrer uma agressão tão brutal e passar por uma situação tão delicada e traumática! Agora vem um desfecho que, se não foi o melhor para Sílvia Popovic, pelo menos trouxe-lhe certo conforto. Um antigo admirador, ciente do ocorrido, condoído, foi visitá-la e a ocasião propiciou o reatamento de um namoro de priscas eras. Isto não faz parte do contexto deste artigo, mas por que não mencionar algo capaz de amenizar a dramaticidade do fato em si?
Atrelado à violência, as pessoas parecem sentir-se atraídas pelo colorido ou pelo charme de um assalto, de um latrocínio ou até mesmo de uma coronada na cabeça. É tão característica sua marca nos noticiários, que acaba atraindo fãs com cabecinhas menos amadurecidas. Há quem ache sedutor passar por momentos de pânico ou sentir o mesmo frisson dessas situações de horror. Pois foi o que ocorreu recentemente. Um desses rapazolas, que não sabem mais o que inventar para causar sensação e provocar emoções violentas nas suas relações, simulou um assalto a um veículo em que a namorada viajava. Armou tudo, tintim por tintim. Encheu de homens ficticiamente armados a carroceria de um caminhão e provocou um falso abalroamento no carro em que a namorada viajava. Simulou um ataque, chegando até, para dar maior realismo ao fato, a quebrar um vidro do carro em que a pobrezinha se encontrava. Nesse ínterim, o caminhão "fechou" o carro da namorada, e abrindo as portas do fundo da carroceria, — a exemplo do cavalo de Troia em que soldados saíam do bojo do animal para tomar a cidade almejada — mais de meia dúzia de homens falsamente armados pularam em torno do carro da Cinderela. A essa altura, ela já não tinha mais pulmão para gritar nem lágrimas para derramar, tamanho era o desespero. Nesse ínterim, o "mocinho", num estilo descontraído, de bermuda e de boné na cabeça, sai da carroceria do caminhão com um buquê de flores em uma das mãos e dirige-se para o veículo em que se encontrava a amada.
Tchã tchã tchã tchã! O que acham que aconteceu? A mocinha teve um desmaio? Deu uns piparotes no mocinho quando percebeu que tudo não passava de uma armação? Não, querido leitor, em meio ao mar de lágrimas e de convulsões nervosas, ainda no banco de frente, ela virou-se para a porta e, mesmo sentada, abriu os braços para enlaçar o pescoço do mocinho que vinha ao seu encontro. E assim ambos, entrelaçados, selaram esse falso quadro de faroeste com um caloroso beijo. Só faltou finalizar a cena encimando-a com uma fita contendo os dizeres: "E foram felizes para sempre".
A jovem não aparentou desapontamento, qualquer sinal de desaprovação, nada disso, só soube levantar ambos os braços para dependurar-se no pescoço do amado, receber o buquê e o pedido de casamento. Então, a violência está ou não está banalizada? Também não estamos defendendo os moldes antigos de um pedido de casamento em que o rapaz ia a casa dos pais da noiva para fazer o pedido. Sei que isso não cabe mais nos moldes da vida moderna, mas, será que é preciso queimar tantas etapas assim?
A espetacularização da violência acaba por fornecer uma espécie de conformismo passivo, ou melhor, uma indiferença com os problemas da realidade. Dessa forma, a propagação de um acontecimento tétrico ocasiona apenas um desconforto inicial, uma aversão momentânea, que se desfaz com o conformismo permanente ou até um fatalismo paralisante. Sob este aspecto, a banalização da violência representa um dos grandes empecilhos para a consolidação de uma cidadania comprometida com o bem comum. A exposição excessiva da violência pela mídia estimula a ideia de que a sociedade é incapaz de melhora. O mal faz mais barulho que o bem. Saber apreciar os pequenos atos de bondade, de sacrifício das pessoas em prol do próximo e a simples existência da amizade e dos vínculos do amor é atitude essencial para o combate de atos nefastos que nada acrescentam. Em vista disso, é preciso resgatar a crença segundo a qual a beleza e a bondade ainda podem resgatar o bem e atenuar o mal.